Festa grande a começar por um lauto jantar. No amplo salão três mesas imensas estavam ali postas, todas preparadas para o ágape, apresentando variadas e saborosas iguarias. Pelas feições dos rostos, pelos largos sorrisos, cada um dos comensais mostrava-se farto e bem nutrido, esperando o momento maior de alegria, o baile.
O conjunto musical, conhecido assim no passado, que agora se denomina banda, enche de som com seus acordes o salão de baile. Começa com música dolente, baladas, alguns blues e até saudosos boleros. Ritmos para o casal dançar de forma romântica, agarradinho, apertadinho, juntinho.
Em determinado momento a banda muda de ritmo. O som é de rock ou qualquer coisa parecida. É o momento da moçada se esbaldar. Os pares ficam soltos, largados. A dança se caracteriza pelo uso do corpo, um modo de expressar emoções do interior do ser humano, naquela hora mais do que nunca. Não importa se obedece ou não aos passos cadenciados de determinado ritmo. O que vale é que os dançarinos, soltos, largados, libertos se divertem. Uns, com passos ritmados de acordo com a música. Outros, desajeitados, simplesmente balançam o corpo num rebolado desengonçado. Mas o melhor para a rapaziada está para acontecer: surgem as dançarinas animadoras de palco, bem a vontade, umas de coxas grossas, diríamos, para não ser indelicado, coxas rechonchudinhas. A turma vibra, se extasia defronte ao palco. A moça ao lado do rapaz não gosta da frescuragem, puxa-o para um lado neutro, afastado.
E a moça de shortinho branco. O shortinho era tão curto que se notava aquela salientada dobradinha na junção das nádegas e as coxas. Sucesso entre a rapaziada, ali, bem à frente, na fila do cacarejo. A moça causa frisson. As moças, namoradas e parceiras dos rapazes, sentem-se ultrajadas por aquele shortinho branco, causando intensas cenas de ciúmes. Uma delas, não muito disfarçadamente, puxa o parceiro pela ponta do paletó e murmura ao pé do ouvido: “Vamos parar de galinhagem”. Com a reprimenda o rapaz se mantém contido. O show da moça do shortinho branco curtinho termina.
O show prossegue com a apresentação de três jovens rapazes. Não que eles possam despertar com o público feminino o mesmo sucesso do shortinho branco com o masculino. Três baixinhos e como acontece com todos os baixinhos, são revigorados por corpos delineados em razão de exercícios de musculação. Não agradam a mulherada, mas é o momento da vingança, rebolativas vão à frente do palco se fresquear. Desagradam aos parceiros. O ciúme é do outro lado. Um deles comenta; “Deixa pra lá. Dos três, nenhum Rodrigo Santoro”. O outro rapaz, para dar um aparente desinteresse, uma esnobação diz: “Eles tem até jeito de gays”.
Acabou o show, a festa continua e desacertos esquecidos, desentendimentos entendidos, superados entraves de somenos importância. Todos enfim, potenciados pelo prazer de dançar, ação dançante que permite intenso prazer, intensiva alegria. Assim se passou uma gostosa noite de plena festa.
*** ***
Nenhum comentário:
Postar um comentário