quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O mundo de Praxedes

Depois de longo tempo Praxedes se comunica comigo. Praxedes, já ouviram falar, é aquele indefectível funcionário público de compromisso esmerado e responsabilidade total com o trabalho, de tendência perfeccionista na execução de suas atribuições, excelente e prestativo servidor com a causa pública. É o tipo do sujeito crente em suas obrigações, dedicação total no cumprimento do horário de trabalho, sempre com a vontade compulsiva de aplicação em sua atividade, em busca do perfeccionismo. Um modesto barnabé, ciente dos atos e fatos a serem cumpridos e dele se pode dizer, de forma pejorativa, que se trata de um “caxias” ou um “cdf”.
Praxedes, jamais em sua pequena e isolada sala na repartição pública para a qual foi designado, utilizou o seu computador para fingir que trabalha ou uma alternativa para passar o tempo se divertido com o joguinho da paciência ou freecell. Para ele trata-se de uma ignóbil enganação, uma sórdida atitude para com os seus superiores e ao povo, o contribuinte que paga seu salário.
Além de todos os excelentes atributos como funcionário público, Praxedes é um cidadão idôneo, de caráter sem jaça, de personalidade imaculada, de vida pregressa irrepreensível, de passado sem qualquer restrição. Indubitavelmente, jamais poderia fazer carreira política. Mas ele pensava nisso e assim desejava.
Ele me diz que se sentiu profundamente magoado em nenhum partido tê-lo convidado para assinar ficha de filiação e foi incisivo ao revelar que filiado desejava ser candidato, não por uma questão ideológica, nem por aquele outro papo furado de representatividade, mas pelo R$ 2.700,00 mensais, mais do que o dobro daquilo que ele ganha como eficiente funcionário. Imagino o quanto custou, pelo seu jeito exemplar de ser, por sua idoneidade, fazer essa revelação, que foge completamente de sua conduta. Eu disse, querendo ser consolador de um aflito ex-candidato a vereador, que por sua autenticidade intima mentirosa, comportou-se como um político. Praxedes ficou indignado e invocado com essa colocação. Disse mais para ele: jamais será um político.
Praxedes de forma ilusória tentou me convencer da honestidade política. Explicou-se: “Eu imagino, candidato a vereador ao lado do candidato a prefeito. Em sua oratória ele me cobriria de elogios, citando-me como exemplo de funcionário público o que serviria de padrão para sua administração”. Desta feita não disse nada, apenas refleti: como tem gente ingênua nesse mundo político, o mundo de Praxedes.
Não sei se Praxedes, idôneo, honesto, responsável, insigne, eleito vereador, tivesse ambiente na egrégia Câmara Municipal, casa legislativa que não aprovou a lei da Ficha Limpa. Como se diz pelo adágio popular “ai tem boi na linha”, o que significa não explicar coisas esquisitas. O eleitor pode tranquilamente deduzir que o significado para as coisas esquisitas é de que tem gente com ficha suja.

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