Agildo parou de fumar. Não, não mesmo. Ele não morreu. Parou de fumar por sua livre e espontânea vontade. Agildo, em termos de consumo de nicotina, alcatrão, entre outros mais 10 produtos químicos que fazem parte da composição do cigarro, fez dele um veteraníssimo viciado, por conseqüência um dependente.
Fumava desbragadamente, de maneira compulsiva, um hábito que o levava a consumir três carteiras de cigarro diariamente. Pelo que significa o número três em quantidade e de forma genérica, parece pouco. Na verdade, levando-se em consideração que uma carteira contém 20 cigarros, chegamos a contagem absurda de 60 cigarros diários. Levando-se em conta que nosso personagem nas 24 horas do dia deve no mínimo dormir sete horas, mais algum tempo com as refeições, concluímos que ele fumava quase quatro cigarros por hora. Agildo fumava em qualquer lugar. Na cama, numa ocasião, com o cigarro acesso entre os dedos, incendiou o lençol. Suas roupas estavam sempre impregnadas com o forte cheiro morrinha do tabaco. O armário onde elas eram guardadas tornara-se infecto. Agildo acredita que a vontade de fumar começou no ventre de sua mãe, ela também inveterada fumante. A mãe, ainda jovem, começou a fumar na época áurea do cinema de Holliwood (talvez por isso só fumasse cigarros Holliwood) com os seus artistas famosos. Ao início, na lembrança, foi por causa do charmoso Humphrey Bogart no papel de Rick, que fumava de jeito impulsivo pela amargura de ter perdido o amor de Ilsa (Ingrid Bergman) no filme famosíssimo Casablanca. Ainda sob efeito do glamour da terra do cinema a mãe de Agildo ficava deslumbrada com o sex appeal de artistas como Ava Gardner, Rita Haiworth entre tantas, que apareciam em fotos de cartazes e revistas, com vestidos longos e aquela inconfundível fenda, lateral ou central, abertura que mostrava voluptuosas pernas e claro, entre os dedos da mão, o distinto cigarro inserido numa piteira – como falsa proteção aos malefícios do fumo - colocado entre os usuais dedos da mão e evidentemente esbanjando muita classe. Quanto poder de sedução, de fascínio, do encanto sensual. A mãe de Agildo não tinha nenhum atributo das vedetes famosas, a única maneira de imitá-las era o charme do cigarro sendo tragado.
Agildo acreditava ser um daqueles 5% de fumantes possuidores de um gene especial protegendo-o contra doenças respiratórias, enfisema e até câncer de pulmão. Pois então poderia continuar fumando, mas parou. Parou e não foi preciso qualquer tratamento especifico, nem os conselhos do Dr. Drauzio. Parou de fumar porque se sentiu discriminado, um paria da sociedade. Hoje em dia em qualquer lugar se pode tudo, menos fumar. Sentiu-se indefeso, tolhido em sua vontade diante de tantas imposições. Parte do direito de ser um cidadão livre ficou prejudicado. Agildo sentiu-se um ser excluído da sociedade, um homem desprezível. Contra esse estado de coisa nada mais poderia fazer. Cansou de ser um soldado do Exercito Brancaleone, da luta contra tudo e contra todos pela liberdade de fumar. Renunciou ao cigarro. Tornou-se ex-fumante pela discriminação.
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