segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ano Velho

Homem de certa idade - eufemismo para não dizer que se trata de um idoso -, nos últimos dias do mês de dezembro, do ano que está para terminar, se posta por algum tempo diante do tradicional calendário anual com a estampa do Sagrado Coração de Jesus, conhecido de forma popular como “folhinha”.
O volumoso bloquinho formado por 365 folhinhas (evidentemente excetuando-se os anos bissextos) está sobreposto na parte inferior da estampa. Copioso no início, no passar do tempo, dia após dia, uma folhinha é destacável, por conseguinte, seu volume diminui. Elementar, pois cada dia do ano corresponde uma folhinha.
Últimos dias do ano, então, restam poucas folhinhas para serem arrancadas naquele movimento sincronizado de baixo para cima. O nosso personagem diariamente, de forma justa e inflexível pela manhã uma folhinha é arrancada.
Quando mais jovem o mover da folhinha era bem rápido, feito num ímpeto mecânico, num ato irrefletido, na tentativa de fazer o tempo passar de forma apressada, para mais depressa alcançar objetivos de vida.
O tempo passou e bem rápido. Agora, como um desdenhado senhor da terceira idade, medita no momento de retirar mais uma folhinha, entre milhares de sua existência e vale como metáfora: mais uma página de sua vida retirada O faz de maneira morosa, de irritante calma para quem observasse. Lia o texto de informação histórica, os detalhes daquele dia. Em seguida, de modo instintivo, sem se deixar afetar por qualquer pieguice, enrolava e amassava a folhinha entre os dedos e a palma da mão e de forma irreflexa, era atirada num lixo qualquer.
O idoso, de que se diz cinicamente estar na melhor idade, se posiciona diante da folhinha, resignado, melancólico e reflexivo.
Mais umas folhinhas, mais um ano terminado e o sentimento de que está ficando mais velho, com um futuro já curto, que deverá ser interceptado adiante na marcha inexorável do tempo. Medita objetivamente. Daqui a pouco irremediavelmente um ano mais velho.
Tenta se convencer de que isso é natural, mas se desgosta ao sentir que o processo é implacável. Hora após hora, dia depois do outro, ano atrás de ano, fazem o agrupamento da contagem inapelável dentro do sistema marcado por um calendário.
È na passagem do ano velho para novo que se depara com a dura realidade. Ano novo e dali a pouco comemorará mais um aniversário natalício. Um ano mais velho formado por hora após hora, dia após o outro. Um tempo que passa tão depressa que não se teve tempo de ver. O ano que passou, marca indelével que não se apaga mesmo no ato da folhinha tirada dia a dia. Um ano passado. Um adeus. Um ano velho que deixou o velho mais velho, ou melhor, mais velho o homem de certa idade.
De qualquer forma feliz Ano Novo para os jovens e velhos.

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