domingo, 29 de abril de 2012
O dom da palavra
O dom da palavra
Igreja do Divino Salvador, no bairro Piedade (RJ). Ali, fui coroinha. Uma missa dominical que sempre fazia questão de ajudar era a missa do padre Alberto.
Um ato de fé religioso igual a tantos outros realizados diariamente em sua liturgia. Mas havia uma diferença. O que diferenciava era o sermão, que se entendia naquela época como uma censura, uma repreensão aos crentes católicos.
O padre Alberto na verdade fazia um vibrante discurso, enviava sua mensagem, como autêntica pregação da crença cristã, sem censura, sem ser um ato repreendedor. Diríamos hoje que é pela homilia, palavra mais amena, que o sacerdote interpretava os ensinamentos do Senhor, o uso da palavra de Deus.
Afora a diferença de interpretação da prédica adotada –sermão/pregação/homilia –importante era a palavra vibrante do padre Alberto ecoando pelos quatros cantos da enorme nave, repercutindo forte entre o santuário e o átrio.
Do alto do púlpito, aquela tribuna situada em determinado local da igreja, mais ou menos em sua metade, hoje sem uso e sem qualquer recurso eletrônico, com a voz estridente, com forte freqüência entre agudos e graves, por sua firmeza, sem vacilar em uma única palavra, porém suave, quase coloquial, com muita eloqüência, o Padre Alberto era sobremaneira convincente.
Falava de forma brilhante. As palavras tornavam-se marcantes no consciente.
Ouvíamos aquelas palavras como se fosse verdadeiramente a palavra de Deus.
Gosto muito da palavra de Deus ou qualquer uma, principalmente se ela for oral, falada corretamente, persuasiva em seus temas com aquele som claro, bem timbrado, ora excitante, ora comovente.
Quando escuto a palavra fácil, envolvente, jamais será algo entediante.
Ouço com atenção o palestrante com a sua exposição metódica e fundamentada sobre determinado assunto.
Aprecio o pastor evangélico com sua oratória influente, deliberada e estruturada.
O comentarista radiofônico ou televisivo brilhante, iluminado e criativo aos expor suas idéias, na tentativa de formar opinião.
Por tudo isso, por ter esse sabor pela palavra, durante quase três horas, assisti pela Tv Justiça, a posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Foram rigorosamente quatro discursos (saudação do decano dos juizes, o procurador geral da República, o presidente da OAB, e o ministro empossado), quatro peças oratórias. Palavras incisivas, sem nenhuma titubeação. Todos esplendorosos em seus pensamentos, magníficos na interpretação da ciência jurídica, sem vacilar em qualquer momento, sem hesitação alguma. Impecáveis no uso da palavra.
Por seus perfeitos verbais, pelos pronunciamentos idôneos e sem jaça, pelos discursos veementes e enfáticos, enfim pela prosopopéia empregada, os quatro oradores daquela noite me fizeram lembrar do padre Alberto, no seu sermão, em sua pregação ou na homilia dominical, seja o que for, todos com o dom da palavra.
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