domingo, 22 de abril de 2012

O primeiro farroupilhense O tempo passa, a vida segue, a fila anda. Não há o que discutir o que é implacável na vivência de cada um. Trajetória e desfecho inexorável da existência humana. Faz tempo, muito tempo. Meus pais resolveram retornar ao Rio Grande. Tempo difícil de dinheiro curto. Não havia grana para mais uma passagem de avião. Solução, criança fiquei no Rio de Janeiro a viver sob os cuidados de uma tia. Sentido, carente, choroso na despedida ficou a promessa de que em seguida, logo que houvesse uma oportunidade, estaria de novo junto aos pais, no aconchego familiar. Demorou. Viajei não de avião (o dinheiro continuava curto), mas de ônibus e caminhão. Menino, minha tia me colocou num ônibus da Viação Cometa (Rio/São Paulo/Rio). Naquela época não havia a rígida fiscalização que hoje há no controle de passagens para crianças. Cheguei em São Paulo para procurar José Bassani.Tinha o endereço de um hotel (jamais esquecerei) na rua 25 de Janeiro onde deveria encontrar o Bassani, que possuía um caminhão e era vizinho dos meus pais na rua Paim Filho. Por esse conhecimento e vizinhança ficou combinado que ele me traria para o sul, desde que o encontrasse em São Paulo. Na capital paulista, surpresa desagradável: ele não estava no local, no hotel combinado. Fiquei descontrolado, sem saber que fazer. Voltar ou buscar o paradeiro de Bassani. Peço ajuda ao gerente do hotel. Ele diz que Bassani sempre se hospeda por ali, desta feita não, mas sabe o telefone da empresa transportadora (Rodofiel, também nunca mais esqueci) onde sempre carrega e felizmente informam que ali ele estava. Alivio. Encontramo-nos e conheci o primeiro cidadão farroupilhense. Conhecidos, no dia seguinte o início da viagem de São Paulo à Farroupilha. Naquela época essa viagem tinha a duração de quatro dias. O caminhão de Bassani era um antigo International KB7. Andava bem. E tinha que andar porque desejava ele passar o Natal em casa. Grande parte das estradas era de chão batido, de muitas curvas. Por isso a demora em se fazer o percurso. Em determinado local, em alguma cidade, do Paraná ou Santa Catarina encontrei e conheci mais dois farroupilhenses, companheiros de Bassani: Bonet e Trevisan. A partir desse momento, por algumas horas, a viagem tornou-se mais agradável, pelas brincadeiras que os três faziam, na hora da refeição ou à noite no hotel. Divertia-me muito. Registre-se que os caminhões da época não ofereciam as mordomias que os atuais possuem. Em determinado momento Bonet e Trevisan se desculparam mas teriam que ir em frente de maneira mais rápida. Afinal os dois possuíam dois potentes e modernos caminhões Ford, na época os famosos F-800 ou F-8.000, qualquer coisa assim. Bassani e eu seguimos no KB-7. Tudo certo. Chegamos na antevéspera do Natal de madrugada. José Bassani foi o primeiro farroupilhense que conheci e com ele, como caroneiro, quatro dias de aventura por tortuosas estradas de um Brasil antigo. José Bassani faleceu semana passada. O tempo passa, a vida segue, a fila anda.

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