sexta-feira, 22 de março de 2013

De San Marin a Che Guevara


Relatei por duas vezes minha passagem pela européia Buenos Aires de ancestrais italianos, que fala espanhol e que busca um estilo de vida de um lorde inglês. Percorri os tradicionais e famosos pontos turísticos da esplendorosa capital portenha. Numa segunda oportunidade esquadrinhei o lado triste da história contemporânea argentina, cheguei a um lugar trágico marcado pelo passado tenebroso não como turista, mas como um melancólico curioso, desejoso em conhecer o local da prática de milhares de atrocidades, reminiscências em que o Estado déspota foi o algoz, passado de ações pungentes em que verdugos enterraram a democracia, sede da EMA.

Realizei todas as visitas, do bem e do mal. Visitei também, mas na ocasião, por um lapso qualquer não fiz menção e faço agora muito justificadamente e por real importância: trata-se da Catedral Metropolitana de Buenos Aires. Está localizada no centro da cidade, na Praça de Maio, vizinha a Casa Rosada. Foi ali, durante alguns anos, que o arcebispo Bergoglio, agora papa Francisco, exerceu suas funções.

A catedral é imensa, seu interior suntuoso, com uma nave grandiosa, onde se encontra o mausoléu do general José de San Martin, herói argentino de sua independência. Não parece ser uma igreja, não há construção das tradicionais torres. Sua fachada é um perfil que não é comum num templo católico, diferente por trazer linhas arquitetônicas do clássico grego. Seu frontispício com 12 colunas parece muito com o Partenon ateniense.

As histórias de um tempo de tirania militar, muito desabonadoras, estão ligadas à catedral de Buenos Aires, à igreja católica argentina. Nos anos de horror da ditadura alguns padres tornaram-se delatores, outros simplesmente se omitiram diante da crueldade, de atos desumanos, dos carrascos da liberdade.

Muitos padres se amedrontaram pelas palavras e conceitos de tiranos generais. Falavam num possível domínio de extremistas, na probabilidade de um governo de subversivos, na ameaça do poder marxista, com a implantação da ideologia comunista, da verossímil e terrível situação de que os primeiros a irem ao “el paredon” seriam os padres. Muitos e muitos deles, com medo, se calaram. Compreende-se.

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Deixo a catedral e a cidade de Buenos Aires, do túmulo do libertador San Martin e me dirijo para o interior, para Rosário e Córdoba, lados em que nasceu e morou Che Guevara. De carro, em boa estrada, percorrendo 300 quilômetros a chega-se a Rosário onde nasceu Che Guevara no passado e no presente Lionel Messi.

De Rosário a Santa Fé são 170 quilômetros. De Santa Fé não custa percorrer um pouco mais de 20 quilômetros ao lado e ir até a cidade de Paraná, isso porque parte do caminho (três quilômetros) se faz por um túnel fluvial por baixo do Rio Paraná que liga as duas cidades. Retorna-se ao trajeto em original: de Santa Fé para Córdoba, distante 700 quilômetros de Buenos Aires. Córdoba é uma cidade universitária, a segunda mais importante da Argentina e de muita história. Como estamos em tempos jesuíticos, um dos principais pontos turístico é a quadra de prédios históricos, as Manzanas Jesuíticas, a igreja da Companhia de Jesus e o conjunto da segunda universidade mais antiga da América do Sul. Também na região pode se conhecer a Casa Museu de Che Guevara, onde ele viveu por alguns anos em busca de um bom clima para seu problema asmático.

Coincidentemente, quando estive em Córdoba, ocorreu o julgamento e condenação de três militares acusados e algozes de verdadeiras chacinas em tempo de tirania argentina. Lá ainda se faz Justiça. Por aqui simplesmente se reconhece que o deputado Rubens Paiva morreu após tortura militar e como consolação a família do jornalista Vladimir Herzog recebe um novo atestado de óbito, reconhecendo que ele não se suicidou, mas sim, foi assassinado pela força opressora ditatorial militar.

 

      

   

      

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