quarta-feira, 13 de março de 2013

O covil da EMA


A programação turística na Argentina, especialmente em Buenos Aires, não é diferente de qualquer lugar no mundo. De modo geral é estabelecido pelo turismo conhecer belas paisagens, lugares maravilhosos, adquirir cultura, ter o conhecimento histórico representado por museus, monumentos, a peculiaridade de cada cidade, característica cultural de sua população.
O roteiro turístico pode começar pelo centro da capital portenha: Plaza de Mayo com a Casa Rosada. Ali perto, na avenida 9 de julho, esquina com Corrientes, lá está o Obelisco, marco monumental em homenagem ao quarto centenário de fundação da cidade. Na avenida de Maio o antigo e tradicional Café Tortoni.
Ainda na parte central da cidade conhecer a Calle Florida, ir até lá somente para aproveitar uma liquidação em uma das lojas de departamento Falabella. A fase austera e classuda, o romantismo de uma época encerrou-se. Hoje a Florida está decepcionante e decadente. Da parte central para o bairro, o La Boca, com o Caminito, suas casas multicoloridas, nada de excepcional e o estádio da Bombonera do Boca Juniors, decrépito, fora do tempo.Vive unicamente por um falso charme.
Interessante reparar a parte fronteira do Luna Park, local de antigamente com  memoráveis lutas de boxe, hoje uma casa de shows.  
Histórica e culturalmente imprescindível não conhecer o Teatro Colon e a livraria El Ateneo.  No bairro Ricoleta, para quem gosta de algo funesto, o cemitério tradicional, com seus mausoléus marca de uma decrépita elegância, da decadência de uma elite, imagem de um país tão marcado por tragédias e personagens memoráveis.
 Esse é o elenco do turismo em Buenos Aires. Assim cumpri o roteiro de um turista em terra portenha, numa primeira visita.
Numa segunda ocasião a vontade de ter o conhecimento histórico, trágico e político, preponderou. Prevaleceu em saber onde ficava o covil, o local, cenário das mais inomináveis barbáries praticadas contra a dignidade e os direitos humanos, durante os anos de chumbo da ditadura argentina.
Dirigi-me até a avenida Del Libertadores (ironia esse logradouro ter esse nome), no bairro de Nuñez, nas proximidades do Monumental de Nuñez, estádio do River Plate.
Ali está um prédio de cor branca inexpressiva, de linha arquitetônica rude demonstrando insensibilidade. Na fachada destacam-se quatro colunas em estilo romano que sustentam uma parte superior do prédio mais avançada onde há bem no alto um brasão, com algum significado para as forças armadas.\Para o leigo, violência.
Estou diante de um covil, da prática da estupidez humana, na frente da famigerada Escola Mecânica da Armada.
Ali estiveram presos de forma clandestina aproximadamente cinco mil argentinos, opositores do regime ditatorial, que foram interrogados e torturados e 90% mortos ou desaparecidos.
Muitos assassinados por fuzilamento, outros tiveram como túmulo, depois de sedados, as águas do Rio da Prata, ou numa rápida viagem de avião, o Oceano Atlantico..
Hoje, a célebre e abominável EMA, está transformada num museu, um centro de memória das atrocidades cometidas por verdadeiros assassinos. Percorrer aqueles frios corredores de aspecto sombrio dá uma impressão tétrica, uma aparência mal-assombrada, onde parece que almas inocentes 
ainda buscam a paz e a liberdade. 

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