Os dois coelhos descansam num relvado e como naturais
herbívoros saboreiam deliciosas cenouras com aqueles dois pares de dentes
incisivos e aguçados no maxilar, que de destacam no conjunto harmonioso e
delicado de seus rostos, junto com as suas compridas orelhas. Um chama-se Beni,
o outro, conhecido pela alcunha de Dentinho.
Dentinho é o estereótipo dos coelhos, aqueles de vulgar
pelagem de cor branca ou cinza, de pelo liso e curto, sem qualquer maior
detalhe que o possa destacar na raça.
Beni não. Beni é um gatão!!! Desculpe um coelhão. Bonito,
imponente por seu porte físico. Tem os pelos de cor acinzentada, cinza que se
mistura com laivos amarelo-acastanhados na nuca e nas patas, a face anterior
esbranquiçada que lhe impõe uma imagem respeitosa. Esse conjunto,
diferentemente belo e lascivo, desperta atração sensual, excita prazer ardente,
ativa a libido de todas as gatinhas!!! Não. De todas as coelhinhas. Beni com
aquele brilhante tom cinza é o sonho, mais que isso a realidade dele ser o
Cristian Grey de muitas coelhinhas. Algumas conseguiram a realização, a
materialização de suas quimeras: Beni como Cristian.
Por isso, por sonhos de luxúria concretizados com um sem
número de coelhinhas Beni tem imensa filharada ao se saber que cada coelha em
fase reprodutiva pode dar três a seis ninhadas por ano e a cada ninhada o
nascimento de três a 12 filhotes.
Indispensável dizer que Beni tem numerosa família.
Pois bem, explicada as diferenças físicas entre os dois, reportamos
ao começo.
Beni e Dentinho na relva, enquanto mastigam ou roem a Daucus
carota ou seja a popular cenoura, trocam idéias, jogam conversa fora e até proveitosa,
diga-se de passagem, quando falam e discutem sobre os direitos da coelhada.
Beni além de mais bonito, é mais inteligente que Dentinho e
é ele que levanta a tese, o debate do assunto, o questionamento concernente ao
que é de direito da raça.
O ponto de vista, a proposição formulada, relaciona-se a
questão do direito de arena, de royalties. Diz Beni para Dentinho:
- Nós temos que acabar com a exploração de nossa imagem.
Chega a época da Páscoa somos usados para estabelecer uma relação com os ovos
de chocolate para enganar as crianças, satisfazer o consumismo, a satisfação
lucrativa de fabricantes e comerciantes.
Dentinho concorda e coloca outra questão discutível e
delicada envolvendo os coelhos.
Revoltado e irado, o que proporciona arrepiar suas penugens,
Dentinho afirma:
- Temos que acabar também com essa coisa que dizem por ai de
que coelho necessita de ninho para botar ovos.
Dentinho, incrivelmente raivoso, com o pelo eriçado, as
orelhas esticadas, acrescenta:
- Isso é ofensivo. Essa galinhagem tem que acabar. Coelho
não é galinha.
Beni compreende a situação, acalma Dentinho, retorna ao
direito de imagem e royalties.
Dentinho volta a falar de modo mais calmo.
- Beni você conhece o Pernalonga, aquele nosso mano esperto,
falante, meio esquisito.
- Sim. E daí Dentinho?
- Pois bem. O Pernalonga morava naquela toca lá na mata e
agora tudo mudou.
- O que aconteceu então? Quer saber Beni.
Dentinho traz a informação.
- O Pernalonga entrou na Justiça contra um fabricante de
chocolate e ganhou a questão, esse negócio que você está falando, de arena e
royalties. Agora com uma baita dinheirama está morando numa mansão com umas 10
coelhinhas da Playboy.
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