Os jovens foram para as ruas. Movimentaram-se. Caminharam por
longas avenidas, passaram por inúmeras esquinas, circundaram praças e soltaram o
grito liberto, isento da política partidária, contra o aumento das passagens de
ônibus e que depois foi muito mais além como forma de protesto.
A garotada berrou, abriu o grito engasgado, preso na
garganta de muita gente contra o estado de coisas de um país ingrato em prol de
uma sociedade civil mais justa, equivalente na justiça social, igual para
todos.
A meninada bradou no presente por um provável desesperançado
futuro. Tenta tirar a embromada e acomodada sociedade, da inércia do
conformismo, da mediocridade imperante, de um momento mal cheiroso embolorado,
para fazer parte de um movimento histórico, ativo e balsâmico.
Os jovens vociferam contra bilhões de reais gastos em arenas
para jogos da Copa do Mundo, enquanto o vivo/morto, dependente do SUS, chega
vivo na recepção do hospital e ali adiante, num infecto corredor, em cima de
improvisada maca, estrebucha-se dramaticamente como último recurso, implorando
socorro e morre vitima da crueldade social, hospitalar, médica, seja o que for.
No entanto, ano que vem, em alguma capital brasileira, em
moderníssimas e requintadas instalações, jogos pelo mundial serão realizados
para divertimento e lazer de uma classe média alta, que pagará preços
exorbitantes pelo ingresso e que encontra atendimento hospitalar de primeira
ordem, moderno e requintado, em sofisticados hospitais.
A juventude invoca o direito claro, notório e público da
manifestação expressa, da reação solidária para influenciar governantes em
busca do bem-estar social do povo.
Exige a condição de ser autenticamente cidadão brasileiro,
de exercer plenamente o direito de brasilidade, sem interferência estrangeira,
sem intromissão da FIFA, que está determinando o que pode ou não pode fazer
dentro, ou nas proximidades dos estádios.
Leis brasileiras proibiam bebida alcoólica no interior dos
estádios. A FIFA conseguiu e agora pode. A chegada, a entrada do público prioritariamente
ao local dos jogos, estabelece a FIFA, deve ser ordeira e organizada, imagem
produzida e enviada para todo o mundo, sem qualquer vexame. Por isso, a polícia
intolerante, a pedido da FIFA, nas proximidades daqueles locais, evita os
manifestantes, agride todos aqueles contrários ao previamente estabelecido, os
defensores da cidadania, ao direito democrático da liberdade de expressão.
O movimento nas ruas causa transtornos. Alguns transeuntes
compreendem, outros não. O bacana alienado, dentro do seu carro importado, de
ar condicionado, escutando música ambiente, nervoso e irrequieto, se irrita,
clama pelo seu direito de ir e vir.
Não entende que quem está lá fora luta contra o aumento
escorchante na passagem de ônibus, coletivos que trafegam sempre lotados, desconfortáveis
para viagens diárias de algumas horas realidade que ele, refinado protagonista desconhece
por completo.
Setores da mídia reclamam contra o vandalismo dos
manifestantes. Não entende que essa ação é claramente um repúdio a truculenta ação
policial.
O que é um container de lixo destruído diante dos valores
irrisórios e camaradas de juros do BNDES para as empreiteiras construtoras de
estádios? O que significa em termos pecuniários um ônibus queimado comparado
aos valores obtidos em corrupção por negociatas pelas licitações.
Tem gente, a conservadora ala direita política reacionária, o
desejo de que as manifestações continuem, que persistam as badernas, que o
vandalismo prossiga, que o governo se desestabilize e que de repente – afinal
vamos entrar em tempos de Copa do Mundo – tal e qual a Copa do Mundo em 1970,
aproveitando o futebol como ópio do povo, haja um general militar que
estabeleça a ditadura, tipo Médici.
Porém, aqui e agora, ninguém jamais apagará as emocionantes
cenas dos jovens protestando, na procura de uma melhor nação, que os direitos
sejam respeitados.
Jovens que põem a cara na rua e enfrentam a truculência
policial, o gás pimenta, balas de borracha. Essa turma jovem sabe incomodar e
que incomodem principalmente os políticos. Sonha, talvez ingenuamente e
utopicamente, mas nos obriga a olhar para dentro de nos mesmos, para as nossas
vidas.
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