É bem assim. Trata-se de um vestuto prédio, um sobrado
obsoleto em sua forma arquitetônica, de linhas circunspectas em sua construção.
Toda essa aparência sisuda do imóvel corresponde ao
pensamento reacionário de seus freqüentadores, senhores militares de pensamento
retrógrado.
O inamovível de estilo rústico é local, em suas internas
dependências, de reuniões para discussões e debates por componentes das forças
militares.
O anacrônico prédio situa-se numa ilha caribenha, uma
república de bananas, assim conhecida por dois motivos. O primeiro por ser um
país com excelente produção e exportação da fruta das bananeiras. Segundo
porque até algum tempo atrás, em sua história recente, seu povo vivia inerte,
conformado e acomodado e assim por esse comportamento, apelidado de forma
pejorativa como banana.
Um dia, sempre há um dia, a população não agüentou mais. De
forma ordeira e civilmente, sem cometer desatinos foi para a rua protestar
contra o insuportável estado de coisas vigente no país. O protesto, como ato
formal, ao início foi contra determinada e especifica situação: aumento de
passagens de ônibus.
Depois passou a ser uma manifestação expressa, uma forma de pressão,
a reação incontida da população diante de absurdos proporcionados por políticos
e governantes. O povo foi para a rua não somente pelo não muito prejudicial
contra-senso e incongruência política, pela falta de firmeza na doutrina
política e na convicção ideológica dos partidos, que pensam tão somente em
proteger seus apaniguados, militantes e companheiros, com empregos públicos,
mas sobremaneira por tudo aquilo que é mais grave para uma nação: corrupção.
Pois é. População unida na rua. A voz do povo, gritos de
revolta ecoando em todas as praças e esquinas. Momento de muita preocupação com
o alvoroço popular, temor de forças conservadores por uma possível sublevação,
que o sistema da ordem política institucionalizado estava periclitante, que a
sociedade civil organizada se mantivesse e para isso os militares estão
atentos.
No citado casarão, o prédio antiquado, militares discutem a
situação de agitação.
- Não podemos aceitar a baderna. Devemos tomar uma atitude
para evitar o caos.
Dessa forma, brada um destemido general do exercito. O
almirante da marinha concorda não muito destemidamente. O brigadeiro da
Aeronáutica, a mais liberal e civil corporação das forças armadas, não se
manifestou.
O general falastrão fala nas forças armadas na rua, a
destituição do governo civil banana sem força para conter a rebelião e a
instituição de um governo oligárquico com militares no comando. O general
prossegue e clama reiteradamente:
- Nós militares precisamos agir. Não podemos bancar os
bananas.
O almirante, que não
e tão destemido, mostrando ser mais tranquilo e consciencioso replica,
argumentando que o povo está enfurecido e que qualquer medida drástica dos
militares poderia causar até uma guerra civil.
O general vem com a tréplica:
- Damos um jeito de agradar o povo. Fechamos o Congresso
Nacional, mandamos senadores e deputados para a casa, acabamos com a raça
política.
O almirante prossegue reticente, de forma lamuriante, quase
num cochicho, diz:
- Sei não. Acho ainda perigoso. De repente estamos contra o
povo e ele contra nós.
Durante alguns minutos se faz um silencio constrangedor para
homens que pautam suas vidas pelo destemor, pela audácia e coragem e naquele
momento demonstram receio.
É a vez de expor sua ideia o compreensivo e flexível
brigadeiro, consciente com a realidade e com uma frase manjada, que vale como
clichê e se manifesta:
- Voz do povo, voz de Deus. Vamos com o povo e
aproveitemos.Vamos com o nosso protesto de melhores salários, nos merecemos,
militares nas ruas a um grito uníssono.
“QUEREMOS AUMENTO, MELHORES SALÁRIOS”
E assim foi feito no país caribenho, que uma vez era dos
bananas, agora é tão somente da fruta banana.
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