terça-feira, 2 de julho de 2013

As bananas e os bananas


É bem assim. Trata-se de um vestuto prédio, um sobrado obsoleto em sua forma arquitetônica, de linhas circunspectas em sua construção.

Toda essa aparência sisuda do imóvel corresponde ao pensamento reacionário de seus freqüentadores, senhores militares de pensamento retrógrado.

O inamovível de estilo rústico é local, em suas internas dependências, de reuniões para discussões e debates por componentes das forças militares.

O anacrônico prédio situa-se numa ilha caribenha, uma república de bananas, assim conhecida por dois motivos. O primeiro por ser um país com excelente produção e exportação da fruta das bananeiras. Segundo porque até algum tempo atrás, em sua história recente, seu povo vivia inerte, conformado e acomodado e assim por esse comportamento, apelidado de forma pejorativa como banana.

Um dia, sempre há um dia, a população não agüentou mais. De forma ordeira e civilmente, sem cometer desatinos foi para a rua protestar contra o insuportável estado de coisas vigente no país. O protesto, como ato formal, ao início foi contra determinada e especifica situação: aumento de passagens de ônibus.

Depois passou a ser uma manifestação expressa, uma forma de pressão, a reação incontida da população diante de absurdos proporcionados por políticos e governantes. O povo foi para a rua não somente pelo não muito prejudicial contra-senso e incongruência política, pela falta de firmeza na doutrina política e na convicção ideológica dos partidos, que pensam tão somente em proteger seus apaniguados, militantes e companheiros, com empregos públicos, mas sobremaneira por tudo aquilo que é mais grave para uma nação: corrupção.

Pois é. População unida na rua. A voz do povo, gritos de revolta ecoando em todas as praças e esquinas. Momento de muita preocupação com o alvoroço popular, temor de forças conservadores por uma possível sublevação, que o sistema da ordem política institucionalizado estava periclitante, que a sociedade civil organizada se mantivesse e para isso os militares estão atentos.

No citado casarão, o prédio antiquado, militares discutem a situação de agitação.

- Não podemos aceitar a baderna. Devemos tomar uma atitude para evitar o caos.

Dessa forma, brada um destemido general do exercito. O almirante da marinha concorda não muito destemidamente. O brigadeiro da Aeronáutica, a mais liberal e civil corporação das forças armadas, não se manifestou.

O general falastrão fala nas forças armadas na rua, a destituição do governo civil banana sem força para conter a rebelião e a instituição de um governo oligárquico com militares no comando. O general prossegue e clama reiteradamente:

- Nós militares precisamos agir. Não podemos bancar os bananas.

 O almirante, que não e tão destemido, mostrando ser mais tranquilo e consciencioso replica, argumentando que o povo está enfurecido e que qualquer medida drástica dos militares poderia causar até uma guerra civil.

O general vem com a tréplica:  

- Damos um jeito de agradar o povo. Fechamos o Congresso Nacional, mandamos senadores e deputados para a casa, acabamos com a raça política.

O almirante prossegue reticente, de forma lamuriante, quase num cochicho, diz:

- Sei não. Acho ainda perigoso. De repente estamos contra o povo e ele contra nós.

Durante alguns minutos se faz um silencio constrangedor para homens que pautam suas vidas pelo destemor, pela audácia e coragem e naquele momento demonstram receio.

É a vez de expor sua ideia o compreensivo e flexível brigadeiro, consciente com a realidade e com uma frase manjada, que vale como clichê e se manifesta:

- Voz do povo, voz de Deus. Vamos com o povo e aproveitemos.Vamos com o nosso protesto de melhores salários, nos merecemos, militares nas ruas a um grito uníssono.

“QUEREMOS AUMENTO, MELHORES SALÁRIOS”

E assim foi feito no país caribenho, que uma vez era dos bananas, agora é tão somente da fruta banana.

 

 

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