quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Órfãos de pais vivos

Funesto, sinistramente desesperador, de profunda consternação, o trágico acontecimento na praia de Torres com o falecimento de três pessoas.
A tragédia ocorrida com morte permite descobrir uma lastimosa e infeliz situação em vida. Os melancólicos protagonistas do triste fato em Torres, tiveram ou tem, alguma ligação com uma casa de abrigo.
As casas de abrigo são estabelecimentos que tem como objetivo atender crianças com direitos ameaçados e ou violados em caráter emergencial. Também lá estão órfãos de pais vivos. Crianças que tem pais, mas desejam uma família. Que estão abrigadas e sentem o desejo de viver num lar pela adoção.
Minha mulher tem uma sobrinha na faixa etária de 40 anos, casada, que tem uma filha biológica já adulta, com vida independente. Dessa forma, nessa condição de vida tranqüila e realizada familiarmente, o casal resolveu adotar uma criança.
Inscreveu-se regularmente para adoção, num juizado da região. Prontificou-se a aguardar a vez obedecendo aos tramites legais.
Nesse ínterim da espera, ofereceu-se ao casal uma criança nordestina, uma sergipana. O juiz da região quis saber mais dos pais adotivos e para isso, por duas vezes, o casal teve que viajar até Sergipe para maiores esclarecimentos.
 Ficou tudo acertado e a linda criança de reluzentes olhos negros, de viçosa pele negra, foi adotada e chamada de Maria Valentina.
O casal estava a anos na fila de adoção na região. Repentinamente responsáveis pelo processo de adoção de uma linda menina, de olhos claros, de rosto gracioso, com um intensivo sorriso nos lábios estava pronta para ser adotada e assim aconteceu.
O casal adotou a suave e alegre Catarina. No dia da entrega compareceu o casal adotivo, os futuros tios e avós, uma alegre pequena multidão.
Alegria imensa, emoções muitas. Beijos e abraços. Até o juiz responsável não soube conter a emoção. Foi observada uma furtiva lágrima em seu rosto que deveria profissionalmente estar impassível, mas o sentimento humano foi mais forte.
Quem desejava uma criança adotada agora tem duas, feliz da vida.
Ser mãe adotiva é vencer barreiras, superar preconceitos e muito, muito mais ter amor. A mãe adotiva sabe que não se trata de um filho evidentemente biológico, não provindo de suas entranhas, da sua barriga. Não habitou o seu ventre, mas freqüenta o seu interior e espirutualmente está âmago de sua alma e de forma incorpórea é parte inseparável, muito intima do seu corpo, filho do coração, de muito amor, como se assim fosse filho natural.
Ter uma criança na intimidade familiar, para acariciar, amar e encaminhar para a vida. São filhos de outros pais que de forma incontestável, de modo legal, juridicamente, encontram uma família.  
Filho que não foi concebido no útero da mãe adotiva, não foi constituído pelo seu sangue, mas que se delicia com o saboroso suco do sonho realizado pela adoção.
Não é fruto de uma herança, não faz parte da hereditariedade normal de pais e filhos.
Não nasceu da mãe adotiva, mas nasceu para ela.
Pois bem. Tudo mais que é oferecido ao filho adotivo, uma mãe, um lar, um ambiente familiar, uma nova vida e um intenso Feliz Natal por muitos anos.

Assim aconteceu para Maria Valentina e Catarina, pais e um lar, felizes da vida, desfrutando Feliz Natal em família.

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