Afirma-se
que se trata da maior exposição de animais da América do Sul.
Num espaço
latifundiário, onde o capitalismo está representado pelos senhores do
agronegócio, são expostos animais da mais variadas espécies, porém não qualquer
um, somente aqueles cotados no reino animal por sua genealogia de origem
comprovada, pela mais fina linhagem hereditária, estirpes evidenciadas por
pedigree.
Lá estão
pequenas e engraçadinhas, espécie dos mamíferos roedores, as chinchilas.
Garanhões, sempre muito bem tratados, formosos e fogosos, cavalos prontos para
a reprodução e com isso a satisfação sexual de muitas éguas. Touros de registro
ancestral valioso, produtores de semens de imensurável valor no mercado. Vacas
portadoras de embriões de grande valia, todos também estão lá.
A animália é
tratada de forma requintada, com muito carinho. O embelezamento para desfile em
passarela, para exibição pública necessita de banhos preparados com ervas
aromáticas, utiliza-se escovas hidratantes e luzes, cuidados exageradas que vão
de encontro à livre natureza, o modo de vida liberto do animal, sem frescuras.
Todo esse
desvelo custa em médio ao proprietário do animal R$ 1 mil durante o evento de
nove dias, bem mais do que recebe o servidor (R$ 600,00) durante o mês.
Apesar do
ambiente próprio, quase exclusivo para animais e para o público em geral, há
espaço chique. Local para bandinha executar músicas e até lugar para uma dançinha,
somente para autoridades, em meio aos efusivos sorrisos.
No dia
seguinte, meio constrangida, a autoridade informa o parcelamento de 600 reais,
sem a necessidade de uma informação tardia. Com antecedência os parcelados
servidores tristemente já conheciam a medida tomada pelo governo.
O reino animal da exposição, privilegiado e
sofisticado, tem em suas cercanias um animalesco mundo cão. Gente em vivência
de pleno sacrifício, com sentimento da dignidade perdida, brios afetados, a
decepção, o agastamento, a irritação por profissionalismo não reconhecido. Seres
humanos parcelados por 600 reais.
Em
consequência, dificuldades financeiras, tormentosas contas a pagar não se
sabendo quando serão pagas. Fica para trás o aluguel, a fatura do cartão de
crédito que naturalmente será pago quando o salário for completado com
exorbitantes juros, há a escolha em pagar a conta da luz ou de água, as duas
juntas, impossível. Tem também a parcela do empréstimo consignado, pagamento
inadiável. Acabou o dinheiro, o amor próprio, trocados pela melancolia, por mágoas
e ressentimentos.
Evidentemente
que acabou. Evidentemente que nada pode ser feito. Então, evidentemente o que
se faz? Governador, evidentemente, que conforme sua determinação nada pode ser
feito para quem é parcelado. Evidentemente.
Pessoas que
insistem na repetição de determinadas palavras demonstram poucos recursos de
linguagem, escassez com as palavras, assim protagonizou-se o governador - desde
o início de sua campanha - quando tenta entabular algum argumento.
Pode ser uma
estratégia persuasiva, um recurso que se utiliza o falante na tentativa de
construir seu discurso. Muitas vezes o improviso provoca a repetição de
determinada palavra, no caso evidentemente.
Evidentemente
que os servidores parcelados aguardam a evidente complementação de seus
salários o mais depressa possível, hoje dia 11, evidentemente pela cronologia deverá
ser saldada mais uma parcela.
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