O inesquecível Nelson Rodrigues, cronista e dramaturgo, tem
como paradigma em sua obra a infâmia, o trágico do cotidiano, o dia a dia
envolvendo protagonistas da escória social, a sexualidade, imoralidade e
obscenidade.
Um de seus personagens em suas crônicas chama-se Palhares.
Trata-se de um canalha. Palhares de lascivos desejos tem uma
ignóbil atração sexual por sua cunhada, mulher do seu irmão.
Para o patife Palhares não há o decoro familiar, depravado
desrespeita a linha de demarcação da moralidade, prevalece o erotismo
pecaminoso. Situação abjeta, típica do trabalho literário de Nelson Rodrigues.
Com a novela Verdades Secretas seu autor Walcyr Carrasco
parece ser contemporâneo do anjo pornográfico (assim intitulava-se Nelson).
O indômito tarado sexual Palhares na novela é representado
por um também cafajeste chamado de Alex, renomado e riquíssimo empresário.
Pervertido sexualmente trama uma situação imoral e passa a
transar com duas mulheres consangüíneas: mãe e filha.
No início Alex, pelo famigerado “book rosa”, para uma noite de amor, para
satisfazer seu instinto sexual lhe é apresentado uma jovem modelo. Os encontros
de ardentes cenas de sexo de repente terminam e assim a jovem modelo sai de sua
vida.
Alex apaixonado, não desiste de seu amor. Para reconquistar a
jovem descobre quem é sua mãe e trama um encontro. Revela seu amor, se diz
profundamente apaixonado e realiza o casamento com a coroa, de olho na jovem,
que assim passa a ser sua enteada. É formado um infame triângulo amoroso. Alex
transa com a mãe e a enteada.
Enquanto o sequioso Palhares tinha ardentes desejos com a
cunhada e se satisfazia com um roubado beijo no pescoço, a satisfação de Alex é
em dose dupla na cama.
A novela apresenta fogosas cenas de sexo. Erotismo em
profusão. Dois atores despertam a libido feminina caminhando nus mostrando a região
glútea, carnudas nádegas. O folhetim trata ainda de discutível assunto social e
moral, procedimento cínico descrito como “book rosa”, modelos que se prostituem
atendendo uma freguesia especial formada por magnatas, riquíssimos homens de
negócios.
Afora as tórridas cenas de sexo, o acerto familiar para
transar, modelos que buscam felicidade pelo dinheiro, praticando o “book rosa”,
Verdades Secretas mostra outro mais grave problema social, o drama do mundo
miserável dos dependes de drogas, a fictícia
cracolândia na novela que não esconde nada da realidade da venda e consumo de
substâncias alucinógenas.
Cenas chocantes do mundo sinistro que envolve o composto
químico conhecido por craque, patéticos viciados na desgraça, o ser humano
desnudo sem qualquer resquício de dignidade, dominado por diabólico. Cenas
fortes e cruciantes em preto e branco para mostrar a indigência de uma parte da
humanidade destruída.
Assim Verdades Secretas enreda por temas fortes, pelo mundo
fashion, pela sofisticada sociedade de alternâncias com devassas e libertinas
atitudes - sociedade dos palhares e todos os alex -; vivência do jovem cafetão
que explora a coroa dona da agência de modelos; o universo da prostituição
requintada; o submundo da decadência humana pelo vício, esfera social submissa à
exploração de traficantes, coitados viciados perdidos em logradouros
denominados pelo execrável nome de cracolândia. Enfim o másculo, machão,
bonitão, vaidoso, conquistador, o desprezível Alex, que faz do sexo seu maior
prazer, que atende a mulher e a enteada, terá enorme decepção. Vai descobrir
que seu filho é gay , magoado por outra desilusão quando soube que sua
riquíssima filha, sem necessidade de dinheiro fez o “ book rosa “. Como diria o
imortal Nelson Rodrigues: “A vida como ela é”.
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