quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Maria sofrida... Maria miseravel

Maria de quê? Alguém sabe? Talvez seja um atributo de somenos importância. Tem um antropônimo igual a muitas outras marias. Teria um prenome? Maria de Fátima, Maria de Lourdes, Maria das Graças... Para ela, na situação da pobreza extrema, o mais adequado, nome e prenome seria Maria das Dores.
Maria não se sabe de quê e para minimizar no contexto, fica simplesmente Maria.
Pois bem. A Maria aqui mencionada é igual a milhares e milhares de marias sofredoras.
Maria que na escala social, está nas profundezas dos índices, evidentemente muito além da baixa. Designado pelas letras, seu nível social, seria uma das últimas do abecedário, X, Y ou Z.
Maria tem quatro filhos, órfãos de pai. O marido, amante ou companheiro, enfim o pai escafedeu-se. Deve ter arranjado outro rabo de saia para fazer mais filhos em algum outro lugar. A prole é constituída na forma ascendente de um menino de dois anos até a preadolescente de 10 anos. Maria sai de madrugada de casa, imensa dificuldade para chegar ao local de trabalho. Deixa o almoço preparado na noite anterior, para no dia seguinte, a primogênita servir os irmãos. A jovem está na idade escolar, mas escola impossível de freqüentar. Afinal alguém tem que tomar conta dos irmãos. Ela é esforçada, digna de registro por ferrenha vontade. Conseguiu uma cartilha e assim de forma rudimentar, junta as letras do alfabeto para aprender a ler.
Maria buscou, foi a luta para conseguir matricula em creche para as crianças. Nada feito. Está na promessa. Um candidato a vereador prometeu vaga e evidentemente não se trata de um simples favor. A promessa tem como contribuição Maria arranjar mais ou menos 10 votos para o distinto futuro edil.
Maria trabalha como diarista. Às oito horas já esta na casa burguesa. A dona da casa, pedante, figura autêntica de ostentação da classe dominante a trata a com menosprezo. Maria encara a situação de desconsideração sentida, mas impassível.
Com alguma mágoa reconhece tratar-se de uma simples serviçal.
Maria, naquele local, executa suas tarefas até o meio-dia. Em seguida às 13 horas já está em outra residência. A madame ali é compreensiva e bondosa. Oferece a Maria um lanche que satisfaz parcialmente sua sôfrega fome.
Cumprida mais uma faina diária o retorno para casa, - como na ida - ao anoitecer é longa. Maria mora na periferia, em miserável favela, onde predomina a indigência, local que intelectual chama de comunidade. Chega em casa, os filhos saudosos a recebem efusivamente. Uma das poucas alegrias de Maria em sua triste vida.
Não há tempo para muita coisa. Necessita alimentar-se e repousar. Felizmente mais um dia passado, mas amanhã prossegue a cansativa e enfadonha rotina.
Maria é um mulherão. Não pelo tamanho, é baixinha. Não se trata de nenhuma loiraça. Pelo conceito racial é uma afrodescendente. Na verdade, na acepção clara da palavra, pelo predicado de mulher valente enfrentando as piores dificuldades, trata-se de um mulherão. Bela em seu íntimo pelo amor aos filhos. Bonita pelo apego ao que tudo deseja fazer para sobreviver. Luta para vencer o destino periclitante, os desígnios de uma vida repleta de vicissitudes. Mulherão. Maria... das dores, do padecer na existência, do sofrimento em vida, super mulher, também simplesmente Maria.     
   

    

Nenhum comentário:

Postar um comentário