Maria de
quê? Alguém sabe? Talvez seja um atributo de somenos importância. Tem um antropônimo
igual a muitas outras marias. Teria um prenome? Maria de Fátima, Maria de
Lourdes, Maria das Graças... Para ela, na situação da pobreza extrema, o mais
adequado, nome e prenome seria Maria das Dores.
Maria não se
sabe de quê e para minimizar no contexto, fica simplesmente Maria.
Pois bem. A
Maria aqui mencionada é igual a milhares e milhares de marias sofredoras.
Maria que na
escala social, está nas profundezas dos índices, evidentemente muito além da
baixa. Designado pelas letras, seu nível social, seria uma das últimas do
abecedário, X, Y ou Z.
Maria tem
quatro filhos, órfãos de pai. O marido, amante ou companheiro, enfim o pai
escafedeu-se. Deve ter arranjado outro rabo de saia para fazer mais filhos em
algum outro lugar. A prole é constituída na forma ascendente de um menino de dois
anos até a preadolescente de 10 anos. Maria sai de madrugada de casa, imensa
dificuldade para chegar ao local de trabalho. Deixa o almoço preparado na noite
anterior, para no dia seguinte, a primogênita servir os irmãos. A jovem está na
idade escolar, mas escola impossível de freqüentar. Afinal alguém tem que tomar
conta dos irmãos. Ela é esforçada, digna de registro por ferrenha vontade.
Conseguiu uma cartilha e assim de forma rudimentar, junta as letras do alfabeto
para aprender a ler.
Maria
buscou, foi a luta para conseguir matricula em creche para as crianças. Nada
feito. Está na promessa. Um candidato a vereador prometeu vaga e evidentemente
não se trata de um simples favor. A promessa tem como contribuição Maria
arranjar mais ou menos 10 votos para o distinto futuro edil.
Maria
trabalha como diarista. Às oito horas já esta na casa burguesa. A dona da casa,
pedante, figura autêntica de ostentação da classe dominante a trata a com
menosprezo. Maria encara a situação de desconsideração sentida, mas impassível.
Com alguma
mágoa reconhece tratar-se de uma simples serviçal.
Maria,
naquele local, executa suas tarefas até o meio-dia. Em seguida às 13 horas já
está em outra residência. A madame ali é compreensiva e bondosa. Oferece a
Maria um lanche que satisfaz parcialmente sua sôfrega fome.
Cumprida
mais uma faina diária o retorno para casa, - como na ida - ao anoitecer é
longa. Maria mora na periferia, em miserável favela, onde predomina a
indigência, local que intelectual chama de comunidade. Chega em casa, os filhos
saudosos a recebem efusivamente. Uma das poucas alegrias de Maria em sua triste
vida.
Não há tempo
para muita coisa. Necessita alimentar-se e repousar. Felizmente mais um dia
passado, mas amanhã prossegue a cansativa e enfadonha rotina.
Maria é um mulherão.
Não pelo tamanho, é baixinha. Não se trata de nenhuma loiraça. Pelo conceito racial
é uma afrodescendente. Na verdade, na acepção clara da palavra, pelo predicado
de mulher valente enfrentando as piores dificuldades, trata-se de um mulherão. Bela
em seu íntimo pelo amor aos filhos. Bonita pelo apego ao que tudo deseja fazer
para sobreviver. Luta para vencer o destino periclitante, os desígnios de uma
vida repleta de vicissitudes. Mulherão. Maria... das dores, do padecer na
existência, do sofrimento em vida, super mulher, também simplesmente Maria.
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