quarta-feira, 19 de julho de 2017

A mulher gravida e o trabalho insalubre: afronta

Aquela barafunda ocorrida no plenário do senado federal nessa semana, ocasião em que senadoras da República Federativa do Brasil em inédita ousadia e com destemido atrevimento, apossaram-se da mesa diretora da egrégia casa parlamentar, fato original nunca visto nesse país. A surpreendente e inesperada balburdia provocou-me a curiosidade, aquele algo que faz parte do instinto humano e que leva à investigação, ao conhecimento, como nesse caso, descobrir se em algum outro lugar no mundo ocorrera acontecimento igual ou ao menos semelhante. Para satisfazer minha bisbilhotice foi pesquisar em velhos alfarrábios, em enciclopédias, esquecendo que modernamente há o mister Google. Vou aos tempos antigos e descubro que o senado romano é a mais remota assembléia política que teve origem nos “conselhos de anciãos”. Tratava-se de uma assembléia de notáveis, rigorosamente hierarquizados constituída sob a república, a magistratura suprema. Nunca houve naquele tempo distante algo parecido, simplesmente porque imperava na república o machismo. Não havia senadoras. Em outros tempos, em muitos países existem senadoras, mas nenhuma, em momento algum proporcionou a algazarra ocorrida. O senado federal, conforme o site Senadonotícias , existem protocolos a serem seguidos. Há sessões em plenário de diversos tipos: deliberativas ordinárias, extraordinárias e especiais, mas tem dias que não há sessão. Tem outras sessões em que  observa-se (Tv Senado mosta) meia dúzia de gatos pingados (excelências, nada de depreciativo). É nessas sessões que algum senador usa a tribuna para dizer alguma coisa, com intuito de exibir-se através do facebook  aos eleitores e familiares. Expediente de Vossas Excelências ocorre somente nas terças e quintas-feiras. Segundas e sextas-feiras “visitam suas bases eleitorais”. Excepcionalmente na terça-feira passada a casa estava cheia, seria aprovada a reforma trabalhista. A sessão começou às 10 horas e de supetão lá estavam na bancada diretiva as senadoras Gleisi, Lidice, Vanessa, Fátima e Regina e abriram os trabalhos. Atrasado, com estilo de galã de chanchada, cabelo pintado e arrumadinho com gel fixador, às 11 horas chegou Eunicio, também conhecido em inquéritos policias pela alcunha de Índio, presidente do senado. Surpreendido mandou a senhoras retirarem-se. Bateram o pé e disseram, daqui não saímos, daqui ninguém nos tira. Discussões e debates em que o feminismo pouco influiu. O Índio mandou apagar as luzes do recinto. Tudo escuro, momento de reclamações diversas em plenário: “quem botou a mão na minha carteira” Outro alguém: “tiraram meu celular”. Tinha até uns abusados. Alguém gritou, voz feminia: “tira a mão daí sem vergonha”. As senadoras resistiram. Almoçaram, servidas por marmitinhas, as quentinhas. Não se sabe se o serviço terceirizado é superfaturado. As mulheres senadoras tomaram a ousada atitude contra a reforma trabalhista principalmente  repudiar entre tantos artigos prejudiciais aos trabalhadores, aquele que determina que gestantes poderão trabalhar em ambientes considerados insalubres, desde que apresentem um atestado médico comprovando que não há risco para ela e para o feto. Uma judiaria, uma afronta a mulher trabalhadora, um ultraje a dignidade do gênero feminino.



                                                           

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