quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Revelação do amigo secreto

Final de ano. Antevéspera do Natal, dia da confraternização, revelação do amigo secreto, entrega de presentes ocasionalmente com frases usualmente corriqueiras, cretinas e bobocas: não sei se você vai gostar; se precisar pode trocar; ah... não precisava.
 A turma de funcionários da empresa reunida em salão de festas amplo, alegre e satisfeita, imbuída pelo saudável espírito natalino. Na ordem natural da hierarquia, chefes num canto, subalternos em outro lado, situação com a aparência inequívoca de discriminação. Entre o grupo de subordinados uma separação natural de posicionamento, questão de funções: pessoal do departamento financeiro em grupo separado do comercial e de serviços gerais. Entre as chefias a presença belíssima e sedutora da chefa do financeiro. Pelo cargo que ocupa denota ser inteligente. Linda mulher, exuberante e esbelta. Esses dotes fazem com que os homens diante dela se apequenem.
Em um canto a presença circunspecta e tímida de Demóstenes. Pela sua maneira de ser introvertida só está ali na festa do amigo secreto por insistência de seu colega Samuel, com o seguinte argumento:
- Demo, você é apaixonado pela Cristina. Tem que acabar com esse amor recolhido, platônico, segredado. Imagina no sorteio do amigo secreto tirar o nome dela e na revelação dizer: “minha amiga secreta é Cris a quem eu admiro, na verdade de quem gosto muito”. Cris é aquela moça do RH, tipo mignon, meiga e encantadora, esparramando simpatia e brejeirice por todos os cantos, cintilante, esplendorosa e radiante em sua alegria.
Entre pessoas, por exemplo, numa empresa, de diferentes personalidades, formam-se grupos heterogêneos. Há moças recatadas, modelos de simplicidade, outras vaidosas e exibicionistas e se acham o recheio da bolachinha. Existem os rapazes que se acham o gás da coca. Metrossexuais arrogantes e pernósticos. Há os discretos, oferecendo empatia, que compreendem seus iguais, tem similitude no sentir e pensar.
 Amigo secreto tem que compreender essas nuances. Conforme a personalidade o presente dado pode significar afeto ou desafeto. Exemplo é o presente de amigo secreto que Claudete terá que oferecer a Rosalinda. As duas não são amigas, mais do que isso, inimigas. Clau é uma moça de fino trato, se veste discretamente, em muitos lugares passa despercebida. Rosa é completamente diferente de Clau. Faceira e vaidosa veste-se rigorosamente dentro do figurino da moda. Pretensiosa, presumida e espevitada, sobressai-se em qualquer lugar e situação.
Entrega do amigo secreto, na verdade amiga. Clau teve o nome sorteado de Rosa lamentavelmente e deixou de lado a modéstia, a tranquilidade do seu jeito ser, saiu do sério. Decididamente não gosta de Rosa. Como presente deu a sempre elegante e sofisticada rainha da cocada preta aquele par de sandálias de plástico, de solado antiderrapante, artigo de luxo da família dos dinossauros, conhecida como “crocs”.
Segue a entrega de presentes e o inesperado acontece, Demóstenes, com pura sorte, tirou o nome de Cris. Acanhado revelou:
- Minha amiga secreta é Cris... Oi.

E assim, perdeu a grande oportunidade de revelar seu amor. 

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