Final de ano. Antevéspera do Natal, dia
da confraternização, revelação do amigo secreto, entrega de presentes ocasionalmente
com frases usualmente corriqueiras, cretinas e bobocas: não sei se você vai
gostar; se precisar pode trocar; ah... não precisava.
A
turma de funcionários da empresa reunida em salão de festas amplo, alegre e
satisfeita, imbuída pelo saudável espírito natalino. Na ordem natural da
hierarquia, chefes num canto, subalternos em outro lado, situação com a
aparência inequívoca de discriminação. Entre o grupo de subordinados uma
separação natural de posicionamento, questão de funções: pessoal do
departamento financeiro em grupo separado do comercial e de serviços gerais. Entre
as chefias a presença belíssima e sedutora da chefa do financeiro. Pelo cargo
que ocupa denota ser inteligente. Linda mulher, exuberante e esbelta. Esses
dotes fazem com que os homens diante dela se apequenem.
Em um canto a presença circunspecta e tímida
de Demóstenes. Pela sua maneira de ser introvertida só está ali na festa do
amigo secreto por insistência de seu colega Samuel, com o seguinte argumento:
- Demo, você é apaixonado pela Cristina.
Tem que acabar com esse amor recolhido, platônico, segredado. Imagina no sorteio
do amigo secreto tirar o nome dela e na revelação dizer: “minha amiga secreta é
Cris a quem eu admiro, na verdade de quem gosto muito”. Cris é aquela moça do
RH, tipo mignon, meiga e encantadora, esparramando simpatia e brejeirice por todos
os cantos, cintilante, esplendorosa e radiante em sua alegria.
Entre pessoas, por exemplo, numa
empresa, de diferentes personalidades, formam-se grupos heterogêneos. Há moças
recatadas, modelos de simplicidade, outras vaidosas e exibicionistas e se acham
o recheio da bolachinha. Existem os rapazes que se acham o gás da coca. Metrossexuais
arrogantes e pernósticos. Há os discretos, oferecendo empatia, que compreendem
seus iguais, tem similitude no sentir e pensar.
Amigo
secreto tem que compreender essas nuances. Conforme a personalidade o presente
dado pode significar afeto ou desafeto. Exemplo é o presente de amigo secreto
que Claudete terá que oferecer a Rosalinda. As duas não são amigas, mais do que
isso, inimigas. Clau é uma moça de fino trato, se veste discretamente, em
muitos lugares passa despercebida. Rosa é completamente diferente de Clau.
Faceira e vaidosa veste-se rigorosamente dentro do figurino da moda. Pretensiosa,
presumida e espevitada, sobressai-se em qualquer lugar e situação.
Entrega do amigo secreto, na verdade
amiga. Clau teve o nome sorteado de Rosa lamentavelmente e deixou de lado a
modéstia, a tranquilidade do seu jeito ser, saiu do sério. Decididamente não
gosta de Rosa. Como presente deu a sempre elegante e sofisticada rainha da
cocada preta aquele par de sandálias de plástico, de solado antiderrapante,
artigo de luxo da família dos dinossauros, conhecida como “crocs”.
Segue a entrega de presentes e o
inesperado acontece, Demóstenes, com pura sorte, tirou o nome de Cris. Acanhado
revelou:
- Minha amiga secreta é Cris... Oi.
E assim, perdeu a grande oportunidade de
revelar seu amor.
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