terça-feira, 29 de março de 2011

A Presidenta

Fim do verão. Outono chegou e dali a pouco o inverno, na ordem natural das estações do ano. O verão austral, que é o nosso, teve seu solstício a partir de 21 de dezembro chegou ao seu final no recente dia 20 com o equinócio de outono. O nome esquisito de solstício significa temperatura quente, em que as mulheres se vestem com shortinhos mostrando roliças pernas, blusa tomara que caia deixando descobertos ombros bonitos e sensuais. O decote avançado mexe com a imaginação dos homens. A vestimenta pode ter a combinação de saias ou calças de cintura baixa apresentando umbiguinhos delicados e interessantes. Os pés calçam a confortável e popular rasteirinha.
Os homens nesse período usam folgadas bermudas, totalmente a vontade com camisetas tipo regata, os pés livres com chinelo de dedo.
Mas o fenômeno de nome equinócio, que significa início do outono, por conseguinte, fim do verão, influi também na programação de um grupo de rapazes. Ao longo dos meses de verão, das tardes claras e espichadas das sextas-feiras costumeiramente a rapaziada reunia-se após um dia estafante no escritório, em determinado lugar, o mesmo bar. Conversam sobre tudo, no entanto é proibido falar sobre trabalho. Não é permitido comentários do chato do chefe, nem do murrinha colega.
Numa das tardes de horário de verão a conversa animada ultrapassa o limite normal para o encerramento da dita cuja e a ida para casa.
De repente um celular toca. É atendido: Alô...Hô meu bem. Sim, sim, tudo bem.
O protagonista da ligação explica aos amigos que a rainha do seu lar o está chamando.
Conversa vai, conversa vem, mais um celular toca. Alguém atende e alguém se explica:
- Era a patroa informando de que está tarde.
Mais alguém se coça, celular na mão. Mostra-se mais macho que os demais.
- Olha digo eu. Estou aqui com meus amigões, tomando um cervejão...Ah... Como que é? Tá...tudo bem. Vou em seguida.
O falso machão com todos os olhares de surpresa a ele dirigidos tenta se explicar:
- É minha mulher avisando que está na hora do Jornal Nacional.
No grupo há solteiros. Um deles, como autêntico representante dos chauvinistas, discursa: “Vocês todos são babacas, verdadeiros palermas. É a verdade por tudo o que ouvi no atendimento aos celulares. Somos uma classe desunida. Nenhuma uma associação de homens desamparados. Não temos a capacidade de organização. Enquanto isso as mulheres tem até Dia Internacional o que é uma discriminação para nós. Falam em sexo frágil. Tem mulher trabalhando de servente de pedreiro, dirigindo ônibus e carretas. Coitadinhas são muito frágeis. O amigo disse que quem ligou foi a rainha do seu lar. Rainha coisa nenhuma. Imperadora, sim. Outro diz que quem ligou foi a patroa. Na verdade quem ligou foi a PATROA mesmo. Quer saber. Afinal vocês tem em casa uma presidenta. Na verdade são duas. A outra está em Brasília.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Anderlaine

Almoço de domingo na residência dos pais da jovem senhora. Estão todos reunidos
A família da simpática anfitriã – pais, irmão e irmãs – e demais parentes por afinidade, os chamados agregados, como sogros e cunhados.
Almoçam. Alguns gulosos, glutões que mostram voraz apetite e parecem tirar a diferença na casa dos outros. Há poucos comedidos que se satisfazem por determinação médica obedecendo ao regime alimentar adequado. Algumas mulheres regulam a vontade de comer com uma dieta para se manterem em forma. As demais, as gordas, nem ligam para isso. Comem.
Prossegue ágape, entremeado com goles de alguma bebida. Todos satisfeitos, depois a sobremesa. As crianças que são netas, netos, filhas e filhos já estão se divertindo numa algazarra única de baderna insuportável principalmente para os mais idosos.
Oportunidade para adultos conversarem mais. Falam de amenidades, coisas supérfluas, uma fofoquinha aqui , outra ali, mexericos, alguns até com a intenção de intrigar algum dos circunstantes, porém nada grave. Talvez porque não se entendam, por falarem ao mesmo tempo. Quem fala dá pouca oportunidade de falar a quem ouve e quem ouve quer falar. Fica difícil o entendimento. Mas continuam falando e ouvindo tudo ao mesmo tempo.
Quem está fora de essa suposta conversação é aquele cunhado perrengue, em pleno silêncio, de quem se ouve um único ruído de satisfação: os estalidos da língua no céu da boca após saborear mais um gole de vinho.
Alguém grita. Um pai ou uma mãe, solicitando ao dito cujo filho que sossegue. Pedido despercebido, evidentemente desobedecido. A correria prossegue com aqueles gritinhos infernais e irritantes, de imensa ressonância, dilacerantes aos ouvidos.
De repente as frívolas conversas são desconsideradas e todos prestam atenção quando uma cunhada pergunta a filha dos donos da casa quanto a sua gravidez.
Odete Maria, a jovem anfitriã, futura mãe, diz que vai tudo. Os exames de ecografia mostraram a normalidade da gestação. Mais que isso. A criança será do sexo masculino.
Uma das futuras avós antecipa-se até ao nascimento do neto perguntando qual será seu nome. A mãe, Odete Maria, informa, dando uma satisfação à pergunta que o nome não fora ainda escolhido. A dita cuja avó insiste enxerida como é, de forma inconveniente, sugerindo nome para a criança:
- Anderlaine é o nome que ouço muito e daria hoje em dia a um filho meu. Acho muito interessante e moderno.
A maioria achou estranho o nome. Principalmente a aqueles que não tem conhecimento de internet. Odete Maria, que sabe o que significa anderlaine como símbolo na informática, disparou de forma incontinente:
- Por favor vó, o que é isso? Esse nome é um verdadeiro estropício.
- Pois Odete Maria, esse é outro nome bem bacana.

Rosa Maria

Um dia Pedro Paulo encontrou Rosa Maria na beira da praia a soluçar. Ele perguntou a Rosa Maria o que aconteceu. Ela então respondeu: o nosso amor morreu.
Pedro Paulo tentou explicar para Rosa Maria de forma direta, objetiva e sucinta, que amor nenhum havia morrido porque nunca existira. Haveria quando muito afetividade, uma forte amizade, que Pedro Paulo lhe devotava, sem nunca ter havido uma grande paixão. Dessa forma o amor de Rosa Maria jamais poderia ser correspondido.
Um amor não retribuído para Rosa Maria tratava-se de um insulto. Bela, verdadeira rainha, jamais poderia ser renegada em seu amor. Ali estava ela na praia. Não precisava de nenhuma indumentária resumida, como um biquini para expor seu escultural corpo. Trajava-se com uma vestimenta larga, tipo de um manto, cobrindo-lhe todo o corpo. Diáfano, transparecia as pequenas peças, as chamadas intimas, obrigatórias e protetoras a uma mulher pudica. A cor branca combinava com areia alva, em perfeito contraste com epiderme bronzeada, os cabelos negros esvoaçando-se ao vento, os lindos olhos brilhantes verdes. Perfeita, uma deusa.
Rosa Maria é poderosa em sua beleza. Vangloriava-se disso. Achava-se até superior a divindade dos mares, o orixá feminino Iemanjá.
O repúdio ao amor deixou Rosa Maria constrangida, mais que isso ofendida. Virou as costas e desapareceu num relance, no abrir e fechar de olhos. Mesmo desconfortada, em seu rosto não apareceu resquício qualquer que poderia alterar suas feições perfeitas, harmoniosas e deleitosas. Nem um momento de ira poderia modificar aquele conjunto.
Pedro Paulo ficou atônito como um simples mortal. Tudo parecia inacreditável, difícil de entender que havia acontecido. Desejava ter Rosa Maria por perto para admirá-la mesmo sem amor. Pensou. Para evitar tudo isso, o dissabor de um encontro perdido poderia tê-la enganada fingindo-se um amor correspondido. Uma mentira lhe oportunizaria mais alguns momentos de contato, de admiração, quase idolatria, o que poderia ser uma eternidade ao seu lado.
Pedro Paulo não correspondeu ao amor. Rosa Maria, como num passe de mágica sumiu, quem sabe entranhou-se mar adentro.
Pedro Paulo sentiu-se confuso. Aquela visão poderia não ser real de tão surreal que fora. Força do pensamento, da imaginação fértil? Pode ser.
A provável fantasia outras possibilidades para o sumiço de Rosa Maria.
Transformou-se talvez em Vênus, deusa da beleza e do amor, que nascera da espuma do mar e provida de todos os encantos e exuberâncias foi encontra-se com Netuno, poderoso Deus dos oceanos, meio homem, meio peixe.
Dessa forma Rosa Maria ou Vênus em forma de sereia teve seu amor correspondido por Netuno, não na beira do mar, mas nas profundezas dos mares.
Rosa Maria parou de soluçar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A sunga branca

O grupo de moças está à beira-mar, num encontro diário sistemático, devidamente programado. Como acontece nesse tipo de encontro, de reunião informal, as distintas jovens falam de futilidades, tagarelam, enfim, jogam conversa fora, sempre pouco aproveitável. Estão ali, umas estiradas sobre a areia, protegidas por uma esteira ou toalha, recebendo no corpo diretamente o sol abrasador, outras se refestelam preguiçosamente numa ampla cadeira de praia que por seu mecanismo por controle fica estendida, tornando-se uma quase cama.
Clô é uma linda morena de olhos verdes. Expõe-se ao sol para ficar mais morena. Nem se liga ao que acontece ao seu redor. Quando indagada sobre alguma coisa, solicitada a dar uma opinião, só se consegue dela um hã, hã. No entanto quando Creusa diz “olha lá, o que é aquilo que se aproxima, que homem, que espetáculo”, Clô rapidamente sai de sua posição de decúbito ventral – quando deitada recebia o sol nas costas – senta-se para olhar o espetáculo e decepciona-se através de uma exclamação: “Creusa, por favor, que bofe”. Creusa é uma loira sofisticada, cheia de quesitos, com cabelos de cor dourada na base farmacêutica e que apanha sol para deixar o corpo bronzeado. Tudo metalizado. Está solteira, sem namorado. Para ela não existe homens bofes.
Nicole tem a tez bem clara, como de resto toda a epiderme do seu corpo, quase alva. Lambuza-se de protetor solar, não enfrenta o sol, não sai um momento sequer da sombra do guarda-sol. Quer manter-se pálida como a sua xará, a branquela Nicole Kidman. Tem namorado ciumento. Pouco lhe importa em termos de homens o que acontece ao seu redor. Todas juntas Clô (de Clotilde), Creusa, Nicole e mais Maria Eduarda (Duda), Zuleica (Zu), Manuela (Manu) e a Eroltildes (Ero). Essas últimas, além da conversa fiada, têm maior preocupação, os olhos fixos na passarela branca de areia apreciando o que de melhor o naipe masculino pode apresentar. Observam os músculos peitorais, bíceps reforçados, espáduas bem delineadas, abdominais no estilo “tanquinho”, os glúteos firmes, as coxas bem formadas. Uns merecem elogios, outros são descartados por aquilo que acham um mínimo defeito físico, que vai de uma barriga levemente flácida ao olhar de peixe morto, o andar desengonçado.
A Ero (Eroltides) é mais extrovertida das amigas, tipo Abigail, a Bibi, da novela das nove. Aprecia profundamente a beleza masculina. Observa todos os homens, principalmente pelos atributos mencionados, os “apolos”, deuses olímpicos.
De repente a atenção de Ero é desperta pela presença, a imitação grega de um Apolo: “amigas, peloamordedeus, vejam o que vem por ali, que coisa”. Realmente trata-se de uma perfeição em termos de fisicultura. Aproxima-se e com isso o início da decepção. Uma amiga diz: “Ero, por favor, olha o andar dele, meio esquisito e ainda por cima de sunga branca. Sei não, amiga, Pode se colocar em dúvida sua masculinidade, na verdade acho tratar-se de um gay”. Para Ero pouco importa. Vale aquele monumento masculino, embora de aparência efeminada.

"A beira-mar

Há dias faço rotineiramente de forma gostosa a mesma coisa para desfrutar a delicia de uma praia maravilhosa. O cotidiano é atraente, porque é gostosamente diferente. A caminhada, a proteção contra raios solares - o guarda-sol fincado na areia - a cadeira de praia não muito confortável, faz parte da programação diária praiana. O mar continua perfeitamente brilhante no seu verde infinito. Sentado, bem relaxado, observo extasiado toda essa fantasiosa realidade, relação que se trata de um paradoxo.
Ao meu lado está minha mulher entretida com a leitura do livro Confraria, do excelente John Grisham. Do meu olhar perdido no oceano passo a observar as coisas de mais perto, sobre a área. Hi...olha só que vem lá. Ela, exuberante de andar malemolente, rebolativo e provocador. Desta feita não está com biquíni com lacinhos ao lado. Incrível: desfila com um biquíni, fio dental, o que deixa desnuda suas nádegas. Esbelta, altiva, poderosa, impávida, cheia de pose, com todo o direito de mostrar sua empáfia, caminha ousada e provocativa que nem a Déborah Secco, para inveja das mulheres e colírio para os homens. Sou um reles mortal. Não posso frustrar-me de dar uma espiadinha, me abster do direito de ver aquele vislumbre estonteante. Mas o pudor hipócrita não me permite dar mancada. Nesse instante minha mulher da uma pausa em sua leitura. Aproveito a oportunidade para fazer dela minha cúmplice:
- Olha só que linda moça à nossa frente.
Minha mulher, mostrando indiferença, balbuciou qualquer coisa e retornou a sua leitura. A cumplicidade valeu. Sem qualquer escrúpulo pude observar a linda rainha, tirana por sua beleza. Sua passagem efêmera durou pouco. Ela passou e a vida continua. Passo a observar outras coisas, obviamente não tão bonitas.
Vejo um cidadão, com uma barriga proeminente entrar no mar. Fica com água pela cintura. Momento depois retorna. Claro, se deduz enfaticamente: entrou na água para fazer um xixi amigo.
Próximo, uma senhora, além da massa abdominal volumosa, tem uma região glútea de respeitável dimensão e por isso enorme dificuldade em se acomodar na cadeirinha de praia. Resolve sentar na areia.
Ali por perto o menino atinge circunstantes com a areia jogada com a pazinha de plástico. A mãe chama atenção. A criança reage atirando também sobre ela areia. A tia se intromete e a repreende. Recebe uma cusparada como resposta.
Fica tudo por isso mesmo e o menino jogando areia nos próximos. Alguém acha insuportável a situação. Recomenda a mãe que encontre uma solução para a malcriação do filho. A resposta não foi nada educada, na verdade atrevida e desafiadora:
- Vai tomar conta de seus filhos.
Tal filho, tal mãe. Para não se incomodar o ofendido afasta-se do local.
Educação deveria ser fundamental no relacionamento humano. Até mesmo numa praia.

A praia

Percorro um pouco mais de 100 metros, chego a uma praia no litoral catarinense e estou diante de um mar maravilhoso. Mais exatamente me situo na praia da Pinheira vizinha a Guarda do Embaú, local de natureza exuberante e intocado, e isso se explica ao fato da região estar dentro do Parque Estadual da Serra Tabuleiro, área ambiental por lei estadual. Vou desfrutar de todo esse privilegiado ambiente natural.
Finco o guarda-sol na faixa de areia fina e alva. Acomodo-me preguiçosamente numa cadeira de alumínio com assento de lona. Aprecio deslumbrado aquele conjunto das leis que regem as existências das coisas, ali de forma magnífica.
Levanto-me, chego à beira-mar. Água de temperatura amena, límpida e transparente. O olhar se perde no horizonte, na vastidão do mar imenso. Se não sentisse ou visse toda aquela resplandecente realidade tudo poderia passar por um devaneio.
Volto a me acomodar na cadeira. Passo a observar outro aspecto da generosa natureza, essa humana, em algumas mulheres. Nem todas são perfeitas. Há aquelas que não foram aquinhoadas ou foram esquecidas pela mãe natureza. Umas gordinhas, outras baixinhas e entre elas as feinhas e essas me desculpe parafraseando Vinicius de Moraes: “que elas me perdoem, mas beleza é fundamental”.
Mulheres e mulheres, as lindas, as rainhas, todas. Entre todas, passa na minha frente na improvisada passarela na areia, aquele monumento em homenagem a beleza e a graça da mulher. Linda, demasiadamente formosa. Caminha lentamente de forma malemolente, de andar provocativamente reboliço. O biquíni, com a tendência da moda atual - colorido, tomara que caia, lacinhos unindo a parte da frente com a de traz – emoldura aquele corpo de deusa. Imponente como uma rainha deixa os súditos boquiabertos, claro os homens. Alguns estão acompanhados de suas mulheres. Cada um, de esguelha, para não dar bandeira e consequentemente bobeira, aprecia o maravilhoso momento. Aquela visão permite na mente de alguns surgir a maledicência em razão da sexualidade. A libido provoca o id, o inconsciente, os impulsos instintivos que deseja ardentemente que um dos lacinhos do pequeno biquíni se desate e a imaginação fique à solta. Em contraposição, por uma questão de pudor, funciona o ego, parte organizada do sistema, mediador e integrado, ponto de equilíbrio, para que a indefesa jovem não fique a mercê do ímpeto sexual, se livre de um constrangimento, não passe vergonha pelos maus pensamentos no simples desamarrar de um laçinho.
Indiferente a tudo, imune a qualquer desejo, prossegue em seu caminhar monárquico, digno de uma rainha. Os outros que pense o que pensarem.

Inconveniência

Andei por ai. Litoral catarinense com diversas e diferentes opções. Praias, trilhas em morros, rios e lagoas. Apesar disso existem algumas inconveniências, principalmente nas praias, em virtude da aglomeração de pessoas. O sol que desaparece, a chuva que cai. A criança que brinca de jogar areia nos outros, inclusive com o marmanjo do pai. Sobra areia para todos aqueles que estão por perto. A vizinhança de guarda-sol bebe caipirinha. Convite para as abelhas se aproximarem. São inofensivas, mas incomodam. O perigo é algumas delas tomarem doses a mais. A moça quer se acomodar melhor na toalha esticada na areia. Levanta-se, sacode a dita cuja e espalha areia por todos os lados. Se dane quem está por perto. A madame sabe que é proibido caminhar com o cachorro na praia. Ela insiste. É a vez do nordestino - que pode ser um cearense, paraibano ou piauiense – se aproximar querendo convencer aos circunstantes comprar redes. Pouco depois surge o shoping ambulante. A vendedora, num carrinho mal ajambrado, tem nas araras vestidos, biquínis e saídas de praia expostas. Moças, senhoras experimentam as vestimentas. Uma, com exagero abdominal, manequim 50, escolhe um biquíni tamanho 44. Não vai dar certo. A moça lambuzada de óleo protetor solar veste um, outro, nenhum vestidinho serve. A senhora está suando as bicas. Não é empecilho para experimentar a saída de praia. Não gosta. Não há cor do seu desejo. Negócio por ali nenhum acontece. A vendedora segue seu caminho com vestidos, biquínis, saídas de praia, produtos naturalmente emporcalhados pelo fato do experimentar, do veste e deveste. Em todas as praias há esses inconvenientes. Nas praias gaúchas acrescem-se outros fatos inoportunos. A constante chuva é um deles. No dia de sol abrasador o desejo de entrar no mar. Impossível. Água fria e achocolatada. O dia de sol está brilhante, mas não dá agüentar o chamado vento “nordestão”. Cachorro perdido e vadio, caso de saúde publica, tem em qualquer lugar, mas desfile de cavalos, a chamada cavalgada é pior, porque é organizada, infectando a areia com excrementos contaminado e infectado a areia, além de latinhas de cerveja, garrafinhas de água espalhadas pela orla.
*** ***
Retorno. Caminho pela cidade. De repente triste e desagradável constatação: desapareceu a Praça da Matriz. Antigo pinheiro, árvores frondosas foram derrubadas. O local dá a impressão que ali se formou uma clareira. Um tapume cerca a devastação. No mesmo tapume, quem sabe, um ativista solitário escreveu duas palavras que significa tudo: “crime ambiental”. A frase já foi apagada, talvez por uma questão de segurança pública, evitando-se uma provável revolta dos ambientalistas.
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Clovis é exagero dizer que passei 60 dias na praia. Não é bem assim. Foram 49, embora ainda tenha mais alguns dias com a semana de Carnaval.