segunda-feira, 21 de março de 2011

Rosa Maria

Um dia Pedro Paulo encontrou Rosa Maria na beira da praia a soluçar. Ele perguntou a Rosa Maria o que aconteceu. Ela então respondeu: o nosso amor morreu.
Pedro Paulo tentou explicar para Rosa Maria de forma direta, objetiva e sucinta, que amor nenhum havia morrido porque nunca existira. Haveria quando muito afetividade, uma forte amizade, que Pedro Paulo lhe devotava, sem nunca ter havido uma grande paixão. Dessa forma o amor de Rosa Maria jamais poderia ser correspondido.
Um amor não retribuído para Rosa Maria tratava-se de um insulto. Bela, verdadeira rainha, jamais poderia ser renegada em seu amor. Ali estava ela na praia. Não precisava de nenhuma indumentária resumida, como um biquini para expor seu escultural corpo. Trajava-se com uma vestimenta larga, tipo de um manto, cobrindo-lhe todo o corpo. Diáfano, transparecia as pequenas peças, as chamadas intimas, obrigatórias e protetoras a uma mulher pudica. A cor branca combinava com areia alva, em perfeito contraste com epiderme bronzeada, os cabelos negros esvoaçando-se ao vento, os lindos olhos brilhantes verdes. Perfeita, uma deusa.
Rosa Maria é poderosa em sua beleza. Vangloriava-se disso. Achava-se até superior a divindade dos mares, o orixá feminino Iemanjá.
O repúdio ao amor deixou Rosa Maria constrangida, mais que isso ofendida. Virou as costas e desapareceu num relance, no abrir e fechar de olhos. Mesmo desconfortada, em seu rosto não apareceu resquício qualquer que poderia alterar suas feições perfeitas, harmoniosas e deleitosas. Nem um momento de ira poderia modificar aquele conjunto.
Pedro Paulo ficou atônito como um simples mortal. Tudo parecia inacreditável, difícil de entender que havia acontecido. Desejava ter Rosa Maria por perto para admirá-la mesmo sem amor. Pensou. Para evitar tudo isso, o dissabor de um encontro perdido poderia tê-la enganada fingindo-se um amor correspondido. Uma mentira lhe oportunizaria mais alguns momentos de contato, de admiração, quase idolatria, o que poderia ser uma eternidade ao seu lado.
Pedro Paulo não correspondeu ao amor. Rosa Maria, como num passe de mágica sumiu, quem sabe entranhou-se mar adentro.
Pedro Paulo sentiu-se confuso. Aquela visão poderia não ser real de tão surreal que fora. Força do pensamento, da imaginação fértil? Pode ser.
A provável fantasia outras possibilidades para o sumiço de Rosa Maria.
Transformou-se talvez em Vênus, deusa da beleza e do amor, que nascera da espuma do mar e provida de todos os encantos e exuberâncias foi encontra-se com Netuno, poderoso Deus dos oceanos, meio homem, meio peixe.
Dessa forma Rosa Maria ou Vênus em forma de sereia teve seu amor correspondido por Netuno, não na beira do mar, mas nas profundezas dos mares.
Rosa Maria parou de soluçar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário