O grupo de moças está à beira-mar, num encontro diário sistemático, devidamente programado. Como acontece nesse tipo de encontro, de reunião informal, as distintas jovens falam de futilidades, tagarelam, enfim, jogam conversa fora, sempre pouco aproveitável. Estão ali, umas estiradas sobre a areia, protegidas por uma esteira ou toalha, recebendo no corpo diretamente o sol abrasador, outras se refestelam preguiçosamente numa ampla cadeira de praia que por seu mecanismo por controle fica estendida, tornando-se uma quase cama.
Clô é uma linda morena de olhos verdes. Expõe-se ao sol para ficar mais morena. Nem se liga ao que acontece ao seu redor. Quando indagada sobre alguma coisa, solicitada a dar uma opinião, só se consegue dela um hã, hã. No entanto quando Creusa diz “olha lá, o que é aquilo que se aproxima, que homem, que espetáculo”, Clô rapidamente sai de sua posição de decúbito ventral – quando deitada recebia o sol nas costas – senta-se para olhar o espetáculo e decepciona-se através de uma exclamação: “Creusa, por favor, que bofe”. Creusa é uma loira sofisticada, cheia de quesitos, com cabelos de cor dourada na base farmacêutica e que apanha sol para deixar o corpo bronzeado. Tudo metalizado. Está solteira, sem namorado. Para ela não existe homens bofes.
Nicole tem a tez bem clara, como de resto toda a epiderme do seu corpo, quase alva. Lambuza-se de protetor solar, não enfrenta o sol, não sai um momento sequer da sombra do guarda-sol. Quer manter-se pálida como a sua xará, a branquela Nicole Kidman. Tem namorado ciumento. Pouco lhe importa em termos de homens o que acontece ao seu redor. Todas juntas Clô (de Clotilde), Creusa, Nicole e mais Maria Eduarda (Duda), Zuleica (Zu), Manuela (Manu) e a Eroltildes (Ero). Essas últimas, além da conversa fiada, têm maior preocupação, os olhos fixos na passarela branca de areia apreciando o que de melhor o naipe masculino pode apresentar. Observam os músculos peitorais, bíceps reforçados, espáduas bem delineadas, abdominais no estilo “tanquinho”, os glúteos firmes, as coxas bem formadas. Uns merecem elogios, outros são descartados por aquilo que acham um mínimo defeito físico, que vai de uma barriga levemente flácida ao olhar de peixe morto, o andar desengonçado.
A Ero (Eroltides) é mais extrovertida das amigas, tipo Abigail, a Bibi, da novela das nove. Aprecia profundamente a beleza masculina. Observa todos os homens, principalmente pelos atributos mencionados, os “apolos”, deuses olímpicos.
De repente a atenção de Ero é desperta pela presença, a imitação grega de um Apolo: “amigas, peloamordedeus, vejam o que vem por ali, que coisa”. Realmente trata-se de uma perfeição em termos de fisicultura. Aproxima-se e com isso o início da decepção. Uma amiga diz: “Ero, por favor, olha o andar dele, meio esquisito e ainda por cima de sunga branca. Sei não, amiga, Pode se colocar em dúvida sua masculinidade, na verdade acho tratar-se de um gay”. Para Ero pouco importa. Vale aquele monumento masculino, embora de aparência efeminada.
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