quarta-feira, 4 de junho de 2014

Inflação galopante

 Ano de 1984. Inflação corroendo a economia brasileira, 223,77% ao ano. Na edição de 25/05/84 do “ O FARROUPILHA” , é editada matéria com a manchete: “O milagre do salário mínimo” , tendo como subtítulo “ou a história do pãozinho e do café”.
Ainda como linha de apoio: “o que se pode comprar com um salário mínimo de Cr$ 97.176,00”. Um pouco mais de 97 mil cruzeiros o salário mínimo na época. Hoje, claro em reais, 97 mil é salário de jogador de futebol da Série B.
Em cima o referido salário mínimo o trabalhador descontava para o INPS Cr$ 8.259,06, o que significava um salário liquido de Cr$ 88.916,94.
Constatava-se então que uma família composta por quatro pessoas (pai, mãe e dois filhos) podiam comprar para se alimentar apenas um pãozinho de 50 gramas, um copinho de cafezinho. A despesa por cada refeição imensa conforme o custo de cada produto: pãozinho Cr$ 45,00; cafezinho Cr$ 200,00. Valor total da refeição, que corresponderia apenas a um café da manhã, Cr$ 245,00.
Cada pessoa da família com três refeições diárias desse tipo teria um custo de Cr$ 735,00, portanto para a família citada (quatro pessoas) com as refeições da mesma ração custaria ao dia Cr$ 2.940,00, ao mês, em seus 30 dias, Cr$ 88.200,00, com uma diferença mínima em relação ao salário liquido recebido (Cr$ 88.916,00).
Por essa matemática certamente outras necessidades deixavam de ser atendidas. O trabalhador daquela época sobrevivia. Como? Certamente com muita criatividade e ajuda de Deus, se caso não morresse de fome.   
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Na mesma edição o jornal noticia que a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) está colocando à venda 156 telefones em Farroupilha. Uma linha telefônica na época tinha valor absurdo. Era tão valiosa como um bem que obrigatoriamente na declaração de Imposto de Renda tinha que ser declarada.
Colocada à venda as linhas telefônicas, pelo preço é possível ter idéia da inflação na época e o valor da linha. Quando o salário mínimo não chegava a cem mil cruzeiros o preço de um terminal telefônico à vista era de Cr$ 1.345.330,00. Hoje quem tem 1 milhão, evidentemente em real,  é um milionário.
Quem não tinha o dinheiro para a compra à vista, se socorria ao prazo oferecido em diversas modalidades, 6,12,18 e até 24  prestações, e então se observa mais uma vez o quanto valia o telefone: poderia ser comprado em até 24 vezes, como hoje se pode adquirir um automóvel.  O tão valioso aparelho de comunicação de antigamente, hoje o chamado fixo, é colocado em casa gratuitamente.        
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O jovem que nos dias de hoje convivendo com uma inflação de 6% ano é importante saber que o brasileiro sofreu em alguns momentos com uma inflação absurda
chamada “ monstro da inflação”, disseminando um clima de instabilidade entre os segmentos da sociedade. Época do trabalhador com o seu salário ir imediatamente ao supermercado e fazer seu rancho. Uma semana depois não compraria a metade. Tempo que funcionava pela manhã e a tarde insistentemente a etiquetadora, maquininha de etiquetas com a subida dos preços.
 O jovem precisa saber que seus pais enfrentaram durante 20 anos o “dragão inflacionário”.  Em 1989 ocorreu o segundo maior índice inflacionário anual do país 1.782% devido ao fracasso do Plano Verão de Sarney e Mailson da Nobrega.
Pior foi em 1993 com impeachment de Collor e o fim do Plano Collor, o disparatado índice de 2.708% anuais. Entre os anos de 1980 a 1993 (13 anos) o Brasil teve quatro moedas, cinco congelamentos de preços, nove planos de estabilização e 11 índices para medir a inflação. Mas o absurdo, o inacreditável, aconteceu durante 40 anos de período inflacionário, de 1968 a 2008, o país conviveu com a estrambótica inflação acumulada de 970.000.000.000.000%, sim, isso mesmo, 970 trilhões.


                                             

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