Ano de 1984. Inflação corroendo a economia
brasileira, 223,77% ao ano. Na edição de 25/05/84 do “ O FARROUPILHA” , é
editada matéria com a manchete: “O milagre do salário mínimo” , tendo como
subtítulo “ou a história do pãozinho e do café”.
Ainda como
linha de apoio: “o que se pode comprar com um salário mínimo de Cr$ 97.176,00”.
Um pouco mais de 97 mil cruzeiros o salário mínimo na época. Hoje, claro em
reais, 97 mil é salário de jogador de futebol da Série B.
Em cima o
referido salário mínimo o trabalhador descontava para o INPS Cr$ 8.259,06, o
que significava um salário liquido de Cr$ 88.916,94.
Constatava-se
então que uma família composta por quatro pessoas (pai, mãe e dois filhos)
podiam comprar para se alimentar apenas um pãozinho de 50 gramas, um copinho de
cafezinho. A despesa por cada refeição imensa conforme o custo de cada produto:
pãozinho Cr$ 45,00; cafezinho Cr$ 200,00. Valor total da refeição, que
corresponderia apenas a um café da manhã, Cr$ 245,00.
Cada pessoa
da família com três refeições diárias desse tipo teria um custo de Cr$ 735,00,
portanto para a família citada (quatro pessoas) com as refeições da mesma ração
custaria ao dia Cr$ 2.940,00, ao mês, em seus 30 dias, Cr$ 88.200,00, com uma
diferença mínima em relação ao salário liquido recebido (Cr$ 88.916,00).
Por essa
matemática certamente outras necessidades deixavam de ser atendidas. O
trabalhador daquela época sobrevivia. Como? Certamente com muita criatividade e
ajuda de Deus, se caso não morresse de fome.
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Na mesma
edição o jornal noticia que a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) está
colocando à venda 156 telefones em Farroupilha. Uma linha telefônica na época
tinha valor absurdo. Era tão valiosa como um bem que obrigatoriamente na
declaração de Imposto de Renda tinha que ser declarada.
Colocada à
venda as linhas telefônicas, pelo preço é possível ter idéia da inflação na
época e o valor da linha. Quando o salário mínimo não chegava a cem mil
cruzeiros o preço de um terminal telefônico à vista era de Cr$ 1.345.330,00.
Hoje quem tem 1 milhão, evidentemente em real,
é um milionário.
Quem não
tinha o dinheiro para a compra à vista, se socorria ao prazo oferecido em
diversas modalidades, 6,12,18 e até 24
prestações, e então se observa mais uma vez o quanto valia o telefone:
poderia ser comprado em até 24 vezes, como hoje se pode adquirir um automóvel. O tão valioso aparelho de comunicação de
antigamente, hoje o chamado fixo, é colocado em casa gratuitamente.
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O jovem que
nos dias de hoje convivendo com uma inflação de 6% ano é importante saber que o
brasileiro sofreu em alguns momentos com uma inflação absurda
chamada “
monstro da inflação”, disseminando um clima de instabilidade entre os segmentos
da sociedade. Época do trabalhador com o seu salário ir imediatamente ao supermercado
e fazer seu rancho. Uma semana depois não compraria a metade. Tempo que
funcionava pela manhã e a tarde insistentemente a etiquetadora, maquininha de
etiquetas com a subida dos preços.
O jovem precisa saber que seus pais
enfrentaram durante 20 anos o “dragão inflacionário”. Em 1989 ocorreu o segundo maior índice
inflacionário anual do país 1.782% devido ao fracasso do Plano Verão de Sarney
e Mailson da Nobrega.
Pior foi em
1993 com impeachment de Collor e o fim do Plano Collor, o disparatado índice de
2.708% anuais. Entre os anos de 1980 a 1993 (13 anos) o Brasil teve quatro
moedas, cinco congelamentos de preços, nove planos de estabilização e 11
índices para medir a inflação. Mas o absurdo, o inacreditável, aconteceu
durante 40 anos de período inflacionário, de 1968 a 2008, o país conviveu com a
estrambótica inflação acumulada de 970.000.000.000.000%, sim, isso mesmo, 970
trilhões.
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