O golpe de
Estado de 1º de abril, não casualmente, mas coincidentemente, aconteceu no dia
da mentira, das afirmações falsas, da persuasão enganosa, dos ardis, de
artifícios, da ilusão, da traição e burla ao sistema democrático brasileiro. Então,
nada mais correto que toda essa enganação, consumada por militares e civis golpistas,
ocorresse no dia 1º de abril, dia da mentira.
Para os
golpistas, militares de alta patente reconhecidos pelas insígnias de estrelas
douradas em seus uniformes, civis representados pelos proprietários rurais,
pela burguesia industrial paulista, por grande parte da classe média urbana,
por setor conservador e anticomunista da Igreja Católica, para eles, tudo
aconteceu no dia 31 de março de 1964, fato para toda essa gente designado como
a “Revolução de 1964”.
Todos aqueles
supostos “donos” do poder, pela bazofia, na presunção arrogante, pela mentira, diziam
que pela “revolução”, o golpe libertador estava restabelecendo a democracia, o
respeito à ordem constitucional, salvando o país, a “Pátria Amada, Brasil”, da
sanha dos comunistas, do ímpeto anarquista.
Essa demasiada
mentira durou 21 anos obscuros, duas décadas que fizeram dos brasileiros tolos,
vivenciando como bobos sempre um primeiro de abril.
O jornal “O
Globo” de Roberto Marinho em manchete sensacionalista proclamava:
“A
democracia está sendo restabelecida”. Em editorial de primeira página o mesmo
jornal definia no título: “Ressurge a democracia”. Mentiras de jornal.
Na verdade
isso tudo foi a subversão da ordem constitucional, a derrubada ilegal de um
governo constitucionalmente legitimo.
Mais do que
nunca, os golpistas, decisivos e determinados, jamais os democratas
implantadores da ditadura, para evitar gozações, piadas, poderiam conceber de
que tudo aconteceu em 1º de abril, no dia da mentira. Para formarem posição para
essa “inverídica verdade”, a farsa, a “Revolução de 1964”, portanto ocorreu em
31 de março, “uma verdade mentirosa”. Na verdade verdadeira tudo aconteceu no
dia 1º de abril. Os fatos comprovam. João Goulart ainda presidente, foi
destituído do poder republicano, deposto de sua função constitucional, retirado
do poder democrático para a qual foi legitimamente eleito no dia que a
democracia foi feita de boba, 1º de abril. Naquele dia, no Palácio das
Laranjeiras no Rio, Jango ainda era presidente. Naquela data, no decorrer do
dia tudo aconteceu: o presidente João Goulart foi espoliado, saqueado do poder,
fraudado em seus diretos.
Da mesma
forma a constituição foi ultrajada, a democracia usurpada.
Assim mesmo,
diante disso tudo, da farsa, da verdade dissimulada, tem gente hoje em dia
querendo reviver a mentira de 31 de março de 64, a verdade de 1º de abril.
Possessos,
furiosos, desnorteados pelo espírito antidemocrático, golpistas vão para as
ruas pedirem o retorno dos militares, a volta do poder de exceção com a
derrubada do estado de direito. Gente que busca viver na mentira democrática,
numa fingida conquista constitucional. Em passeata, em marcha de mentirosos
cristãos, uma enorme faixa clamava: “Contra o comunismo, pela intervenção
militar constitucional”. Paradoxalmente, autêntico contrassenso, uma afirmação
contraditória.
Afinal a
intervenção militar, como muitos querem, é um desaforamento a
constitucionalidade, portanto ilegal, golpista. Se assim for como pode ser
constitucional. Paradoxo, contrassenso, contradição...mentira.
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