Datas históricas ficam memorizadas, lamentavelmente, em
grande parte pela intolerância, por fatos gravíssimos contra a sociedade e diante
do cidadão. No alto grau a intolerância chega a provocar a violência e em
muitas ocasiões pela forma mais violenta que é a morte.
Datas necessárias para lembrar a intransigência de
autoridades quanto aos direitos civis e humanos, a incomplancência do poder
diante do justo e honrado nas questões sociais. As datas registradas na
História são importantes para serem memoráveis, inesquecíveis por marcarem
lutas para as conquistas, como o respeito a lei e a cidadania.
Dia 1º de Maio, Dia do Trabalhador, feriado nacional. Em
Chicago (EE.UU), na época a cidade pólo da indústria americana, no dia 1º de
Maio de 1886, trabalhadores reivindicam direitos trabalhistas, o que acontece a
mais de um século. Tal e qual, como se fosse hoje, foram às ruas desejando
melhores condições de trabalho, a redução da jornada diária de trabalho de 13
para oito horas. E como sempre acontece, antigamente e hoje, ocorreu forte repressão
ao movimento: prisões feitas, feridos e até mesmo morte no conflito entre manifestantes
e a polícia. Assim, por esses acontecimentos trágicos, a homenagem aos trabalhadores
sacrificados na busca da conquista de direitos trabalhistas e para que essa
proeza trágica trabalhista em Chicago seja sempre lembrada, jamais esquecida,
foi criado, para o registro histórico, a sagração do Dia do Trabalhador,
celebrado a cada ano no dia 1º de Maio.
No Brasil, a fase
mais áurea nas comemorações do Dia do Trabalhador foi no período de governo de
Getulio Vargas. As festividades compreendiam atividades culturais e esportivas.
Havia um profundo sentimento de civismo, momentos efusivos de intensas
vibrações.
Afinal 1º de Maio e Getulio significavam quase a mesma
comemoração. O Dia de 1º de Maio era a consagração máxima do grande líder
popular com o trabalhador brasileiro
A cada ano, a cada 1º de Maio, Getulio Vargas anunciava mais
um direito ao trabalhador: salário mínimo, Justiça do Trabalho, CLT, carteira
profissional assinada pelo patrão.
A maior festividade realizava-se no Rio, no estádio do Vasco
da Gama, em São Januário, zona norte. Ali, diante de mais de 40 mil pessoas, o
presidente adentrava ao local. Em carro aberto acenava para a multidão. Pela
pista de atletismo, presidente dava a volta ao estádio. Era delirantemente
ovacionado, verdadeiramente idolatrado.
Feita a volta triunfal, em seguida comparece a tribuna de
honra. Nesse local faz o seu tradicional discurso de homenagem aos
trabalhadores. De pé inicia seu discurso. Getulio era dono de poderosa
oratória, o grande instrumento de um líder e em razão disso tinha a capacidade
de persuasão, a retórica para o convencimento.
Tinha baixa estatura, em contraste a altura da ressonância
de sua voz no ambiente. Historicamente e de forma tradicional, de praxe,
costumeiramente, iniciava o discurso com a expressão: “Trabalhadores do Brasil”.
Era dita sílaba por sílaba, bem pausada e bem audível. Naquele estádio, naquele
palco a teatralidade bem preparada. Momento de monumental entusiasmo, palmas
ardorosas, gritos histriônicos, histeria completa. Terminada a frase inicial a
platéia se comporta em silêncio total. Ouvia-se até o suspiro, a respiração do
grande líder no espaço entre as palavras pausadas e claras. Fim do discurso.
Mais aclamação pública, mais ovação do povo trabalhador de forma entusiasta ao
grande guia, ao mentor, ao maior condutor do trabalhismo.
Mais ou menos assim, meu pai, jovem trabalhador na época, me
contava o que assistia em São Januário, no dia 1º de Maio.
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