quarta-feira, 1 de abril de 2015

ACHACADORES

A família Gomes, aquela lá do nordeste brasileiro, do Ceará, tem como protagonistas principais os irmãos Ciro e Cid. Trata-se de uma família tradicional na política do estado do Ceará, cuja dinastia tem origem no sertão cearense, mas exatamente no município de Sobral (população estimada em quase 200 mil habitantes, a pouco mais de 230 quilômetros de Fortaleza, cidade em que a Grendene tem oito unidades fabris).
Os irmãos Gomes têm comportamento designado pelo adjetivo inusitado e por seus vários sinônimos: estranho, insólito, surpreendente, pitoresco, anômalo.
Podem se qualificar também pela maneira de agir por irreverência, palavra que tem o mesmo sentido de atrevimento, em ser desaforado e petulante.
Ciro , o primogênito, começou sua carreira no regime político de caráter à direita, dos ideais considerados conservadores, filiando-se ao PDS, partido sucedâneo a ARENA, da ditadura militar. Esse pensamento ideológico conservador continuou, demonstrando certa dubiedade na escolha partidária. Prova de suas incertezas partidárias é a sua passagem por diversas siglas: PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS.
Foi vereador, deputado, governador, ministro, candidato duas vezes à presidência da República. Numa dessas ocasiões como candidato foi interpelado, numa entrevista, qual seria o papel de sua companheira, a atriz Patrícia Pillar. Quando se acreditava que diria algo como “seria a primeira dama”, respondeu numa atitude machista, em total constrangimento, que a obrigação dela seria dormir com ele.
Cid é mais novo. Foi prefeito (Sobral), deputado, governador e breve ministro. Sua trajetória política partidária foi semelhante ao irmão Ciro, marcada pela inconstância.
Cid Gomes, Ministro da Educação, em determinado local afirmou que na Câmara Federal havia entre 300 ou 400 achacadores. A declaração causou profundo mal-estar, deputados sentiram-se humilhados, rebaixados moralmente pelo epíteto grosseiro.
Em certa ocasião Lula disse que no Congresso, havia uns 300 picaretas. A revolta de “vossas excelências” não repercutiu tanto talvez porque na oportunidade os deputados entenderam como picaretas aqueles trabalhadores que usam o instrumento de ferro (picareta) para escavar terra, arrancar pedras. Assim compreenderam como picaretas o trabalho duro na Câmara Federal. Nada disso. Entenderam mal ou, não quiseram entender. Picareta, na linguagem cotidiana, no vocabulário coloquial, enfim no popular, na gíria, significa ser oportunista, parasita, trapaceiro, vigarista.
Cid chamou uns 300 ou 400 deputados de achacadores que na linguagem popular tem muita semelhança com picaretas, significado de enganador, velhaco, aproveitador.
Na verdade o que disseram Lula e Cid é o sentimento da maioria dos brasileiros que tem no âmago de suas reflexões, na natureza íntima de cada um, em seus colóquios.
 Aqueles deputados, ou como disse Cid, os achacadores, entre três ou quatro centenas, ficaram melindrados, porque sabem qual é o pensamento maior do povo com respeito as “vossas excelências”.
Escrupulosos, pela honradez ultrajada, pelos princípios morais insultados, os deputados convocaram Cid para comparecer à Câmara e diante das “vossas excelências” fazer uma declaração para se justificar pelo dito despropositado, pelo absurdo ofensivo cometido.
Pensaram os deputados, principalmente os peemedebistas - que sem qualquer subjetividade foram os mais ofendidos - que arrependido pediria desculpas, que não havia nenhum achacador e a honra dos deputados estaria lavada. 
Qual nada. Ledo engano. Cid com seu jeito casmurro, turrão e insolente, destilou mais ódio. Confirmou tudo o que disse. Da tribuna, no plenário do poder legislativo, para espanto pelo inesperado, pela atitude desaforada, irreverente, até entendida como desrespeitosa por alguns, mas antes de tudo democrática, ali, naquele mesmo lugar,     ratificou haver 300 ou 400 achacadores na frente de todos os ditos achacadores, digo deputados.


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