A família
Gomes, aquela lá do nordeste brasileiro, do Ceará, tem como protagonistas
principais os irmãos Ciro e Cid. Trata-se de uma família tradicional na
política do estado do Ceará, cuja dinastia tem origem no sertão cearense, mas
exatamente no município de Sobral (população estimada em quase 200 mil
habitantes, a pouco mais de 230 quilômetros de Fortaleza, cidade em que a
Grendene tem oito unidades fabris).
Os irmãos
Gomes têm comportamento designado pelo adjetivo inusitado e por seus vários
sinônimos: estranho, insólito, surpreendente, pitoresco, anômalo.
Podem se
qualificar também pela maneira de agir por irreverência, palavra que tem o
mesmo sentido de atrevimento, em ser desaforado e petulante.
Ciro , o
primogênito, começou sua carreira no regime político de caráter à direita, dos
ideais considerados conservadores, filiando-se ao PDS, partido sucedâneo a
ARENA, da ditadura militar. Esse pensamento ideológico conservador continuou,
demonstrando certa dubiedade na escolha partidária. Prova de suas incertezas partidárias
é a sua passagem por diversas siglas: PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS.
Foi
vereador, deputado, governador, ministro, candidato duas vezes à presidência da
República. Numa dessas ocasiões como candidato foi interpelado, numa
entrevista, qual seria o papel de sua companheira, a atriz Patrícia Pillar. Quando
se acreditava que diria algo como “seria a primeira dama”, respondeu numa
atitude machista, em total constrangimento, que a obrigação dela seria dormir
com ele.
Cid é mais
novo. Foi prefeito (Sobral), deputado, governador e breve ministro. Sua
trajetória política partidária foi semelhante ao irmão Ciro, marcada pela
inconstância.
Cid Gomes,
Ministro da Educação, em determinado local afirmou que na Câmara Federal havia
entre 300 ou 400 achacadores. A declaração causou profundo mal-estar, deputados
sentiram-se humilhados, rebaixados moralmente pelo epíteto grosseiro.
Em certa
ocasião Lula disse que no Congresso, havia uns 300 picaretas. A revolta de
“vossas excelências” não repercutiu tanto talvez porque na oportunidade os
deputados entenderam como picaretas aqueles trabalhadores que usam o
instrumento de ferro (picareta) para escavar terra, arrancar pedras. Assim
compreenderam como picaretas o trabalho duro na Câmara Federal. Nada disso. Entenderam
mal ou, não quiseram entender. Picareta, na linguagem cotidiana, no vocabulário
coloquial, enfim no popular, na gíria, significa ser oportunista, parasita, trapaceiro,
vigarista.
Cid chamou uns
300 ou 400 deputados de achacadores que na linguagem popular tem muita
semelhança com picaretas, significado de enganador, velhaco, aproveitador.
Na verdade o
que disseram Lula e Cid é o sentimento da maioria dos brasileiros que tem no
âmago de suas reflexões, na natureza íntima de cada um, em seus colóquios.
Aqueles deputados, ou como disse Cid, os
achacadores, entre três ou quatro centenas, ficaram melindrados, porque sabem
qual é o pensamento maior do povo com respeito as “vossas excelências”.
Escrupulosos,
pela honradez ultrajada, pelos princípios morais insultados, os deputados convocaram
Cid para comparecer à Câmara e diante das “vossas excelências” fazer uma
declaração para se justificar pelo dito despropositado, pelo absurdo ofensivo
cometido.
Pensaram os
deputados, principalmente os peemedebistas - que sem qualquer subjetividade
foram os mais ofendidos - que arrependido pediria desculpas, que não havia
nenhum achacador e a honra dos deputados estaria lavada.
Qual nada. Ledo
engano. Cid com seu jeito casmurro, turrão e insolente, destilou mais ódio.
Confirmou tudo o que disse. Da tribuna, no plenário do poder legislativo, para espanto
pelo inesperado, pela atitude desaforada, irreverente, até entendida como desrespeitosa
por alguns, mas antes de tudo democrática, ali, naquele mesmo lugar, ratificou haver 300 ou 400 achacadores na
frente de todos os ditos achacadores, digo deputados.
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