Antigamente, a maneira de votar
consistia na utilização de um papel relativamente padronizado pelo qual o eleitor
manifestava sua opinião através do sufrágio. O papel oficialmente tratava-se da
cédula eleitoral. Impresso estava os nomes para presidentes, governadores e
senadores quando o eleitor deveria colocar um X no candidato de sua preferência.
Na votação para deputado federal ou estadual o eleitor escrevia o nome do
candidato ou o número ou qualquer bobagem. No interior da cabina, onde se
exercia o direito do voto havia um impresso com o nome e o número dos
candidatos. Feita a escolha, o eleitor depositava a cédula eleitoral na urna
postada, resistente, inviolável, lacrada, com mais ou menos 30 cm de diâmetro e
aproximadamente 60 cm de altura vigiada por mesários.
Votação encerrada. As urnas são enviadas
para escrutínio em local pré-determinado, quase sempre um ginásio de esportes
ou o salão paroquial. Em qualquer um desses locais colocavam-se a mesas
apuradoras com os mesários designados. O processo de contagem de votos começava
pela conferência de informações contidas num boletim.
Nas apurações da época, o papel aquele,
oficialmente cédula eleitoral, continha disparates, ofensas, acusações, que se
dizia o chamado voto de protesto, tipo assim: “vai trabalhar vagabundo”, “ladrão
sem vergonha”. Outras mensagens mais amenas: “salafrário”, “cretino”,
“enganador” e outras mais inteligentes como energúmeno.
Época em que as urnas recebiam esse tipo
de votos, milhares de votos, num total desrespeito ao civismo, uma afronta ao
pleno direito de votar.
Assim, essa galhofa eleitoral permitiu que
na eleição municipal de 1959 em São Paulo, que Cacareco - apesar do nome
masculino tratava-se de uma fêmea rinoceronte - fosse eleita vereadora com
quase bizarros 100 mil votos. Por esse episódio alguém disse: “É preferível
eleger um rinoceronte do que um asno”.
Cacareco pertencia ao zoológico do Rio
de Janeiro e que foi emprestado ao zoológico de São Paulo e alguém teve a ideia
de lança-lo como pretendente a vereança. Sucesso eleitoral absoluto. A
“candidata” mais votada foi devolvida ao Rio onde morreu anos depois. Seus
restos mortais retornaram à São Paulo ficando em exibição num museu veterinário
Já em 1988 foi lançada a candidatura do
chimpanzé Tião, também vivente em jaula do zoológico à prefeitura do Rio de
Janeiro. Sua campanha eleitoral foi baseada no direito democrático, a liberdade
do “último preso político”. O símio recebeu aproximadamente 400 mil votos, equivalente
ao terceiro lugar no resultado final. Tião morreu quase 10 anos depois, aos 34
anos devido a diabetes. Na ocasião foi decretado luto oficial de três dias no
município do Rio de Janeiro.
A cédula eleitoral permitia escrever o
nome de esdrúxulos candidatos e as urnas democraticamente as recebia.
Tempo de urnas eletrônicas. Não dá mais
em votar em Cacareco ou Tião, mas elas, as eletrônicas também democraticamente,
recebem votos de aventureiros, patifes, canalhas, desonestos. Acolhe votos,
mais de 150 mil, para o boçal ex-ator pornô, ex-viciado em drogas. Somam-se
votos de estouvados radicais, aloprados atrapalhados, enganadores boquirrotos. Votam
uma gama de indivíduos vivis e militares, votam todos até capitães, menos
soldados, proibição constitucional, nesse caso as urnas não são tão democráticas.
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Manifestações públicas, passeatas. O
movimento acarreta exacerbado patriotismo até mesmo quando é cantado o hino
nacional. Segundo o pensador inglês Samuel Johnson “patriotismo é o último
refúgio do canalha”.
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